Figuras de Linguagem: Introdução

Antes de estudarmos as figuras de linguagem, precisamos saber a diferença entre denotação e conotação. Denotação é o sentido convencional de uma palavra, aquele que é encontrado no dicionário. Conotação é o sentido que uma palavra ou expressão adquire em determinado contexto, é o sentido figurado. Para melhor compreensão,
leia o trecho de um poema de Florbela Espanca:

E fico, pensativa, olhando o vago…
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim…

ESPANCA, Floerba. Lágrimas ocultas.
Disponível em: http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v092.txt
Data de acesso: 15/03/2019

No último verso da estrofe, temos a expressão “rosto de monja de marfim”. Marfim é um material nobre branco-amarelado, feito a partir dos chifres de animais como elefante e rinoceronte. Será que o rosto do eu-lírico realmente é feito desse material? Obviamente, não. É uma expressão que possui uma conotação, um sentido figurado. No caso do poema, faz alusão a um rosto claro, delicado e valioso, como o marfim. Caso ainda fique confuso, é só lembrar que denotação, que representa o sentido literal de uma palavra, começa com “D”, de “dicionário”.

Quando uma palavra possui conotação ou sentido figurado, faz-se uso de figuras de linguagem. Elas podem ser classificadas em três grandes grupos: figuras de palavras, figuras de pensamento e figuras de construção ou de sintaxe.

Mas, antes de nos debruçarmos sobre as classificações das figuras de linguagem, vamos analisar algumas de suas características e ocorrências:

Comparação – destaca as semelhanças entre dois termos, fazendo uso de palavras ou expressões que ligam esses dois termos. Exemplo: como, tal qual, assim como, etc. Veja um exemplo na música de Lulu Santos e Nelson Motta:

“A vida vem em ondas como o mar.”

Metáfora – muito semelhante à comparação, porém não possui um elemento que ligue os dois elementos. No mais, é uma figura que coloca a palavra fora do seu sentido literal. Olhe como isso acorre na música da banda Cogumelo Plutão:

“Você é a escada da minha subida.”

Catacrese – figura que se emprega quando, literalmente, faltam palavras. A catacrese ocorre quando usamos uma palavra em um outro contexto, por falta de palavra específica:

O passageiro embarcou no avião.

“Embarcar” é um verbo que significa “entrar no barco”. Porém, como não existe nenhum verbo para “entrar no avião”, emprega-se o verbo “embarcar”.

Metonímia – nessa figura, trocamos um termo por outro, mas os dois possuem algum tipo de relação entre si. Essas relações podem ser dos mais diferentes tipos, como veremos nos exemplos a seguir.

O autor pela obra:

Adoro ler Cecília Meireles.

Nesse caso, não se está lendo a pessoa Cecília Meireles, mas a obra da autora.

O continente pelo conteúdo:

A Carol e a Ju beberam uma lata de refrigerante no almoço.

É óbvio que as meninas não beberam a lata, mas sim o líquido dentro dela.

O sinal pela coisa significada:

O trono espanhol é ocupado pelo rei Felipe VI.

“O trono”, nesse caso, representa a liderança da monarquia.

Existem outros casos de metonímia, mas seria uma lista exaustiva e que não daria conta da diversidade e da flexibilidade com que “brincamos” com palavras e expressões, transformando-as nessa figura de linguagem chamada metonímia. Ainda que ela possa ser confundida com a catacrese, é possível diferenciá-las por uma questão importante: a catacrese só ocorre quando faltam palavras específicas no léxico, ao contrário da metonímia, em que só se opta por usar uma palavra que
represente outra.

Antonomásia – é uma figura que define uma pessoa por alguma alcunha que lhe foi atribuída (espécie de “apelido”) ou alguma característica marcante.

Morre, aos 87 anos, a Dama de Ferro.

Dama de Ferro é uma referência a Margaret Thatcher, conhecida por essa alcunha por tomar medidas liberais durante seu governo na Inglaterra, nos anos 80.

Perífrase – ocorre quando uma expressão de extensão maior é usada no lugar de uma palavra.

A falta de alegria constante do adolescente deve alertar os pais.

Nesse exemplo, a expressão “falta de alegria” poderia ser simplesmente trocada pela palavra “tristeza”.

Sinestesia – figura muito comum na literatura, principalmente na poesia. Quando sensações ou sentidos se cruzam. Veja o exemplo em um trecho do texto “Águas vivas não sabem de si”.

“Ele os invejava. Diferente do golfinho ou cachalote, o doutor não tinha em seu corpo a aparelhagem necessária para ver ruídos, saber o que eles significavam, formar um quadro a partir de ondas sonoras, enxergar pelo som em um mundo sem luz.”

VALEK, A. As águas-vivas não sabem de si. Rio de Janeiro: Rocco, 2016.

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