O Que é Filosofia?

Desde os primórdios da filosofia até os dias atuais, o conhecimento humano se especializou enormemente. Em Aristóteles, por exemplo, já vemos a necessidade de organizar em disciplinas as diferentes investigações sobre o mundo, agrupando-as por suas semelhanças e separando-as por suas diferenças. As disciplinas que conhecemos (física, química, biologia, matemática, português, filosofia, etc.) têm por objetivo organizar o que já sabemos sobre um aspecto do mundo em que vivemos, e dirigir as novas pesquisas a partir dos conhecimentos já conquistados. É inegável o avanço nas descobertas da física, da química, da biologia, da matemática… Vivemos em um momento da história caracterizado pelo avanço tecnológico constante. Porém, como fica a filosofia nesse contexto?

Bertrand Russel, um dos mais importantes matemáticos e filósofos do século XX, em seu texto “O Valor da Filosofia”, diz que, se você procura encontrar na filosofia um corpo de verdades comprovadas assim como as obtidas por outras ciências, sua busca não encontrará muitos resultados. A filosofia, até hoje, não produziu um corpo de conhecimentos comprovados como as outras ciências. Veja esse exemplo: quando estudamos biologia ou física, estudamos a história dessas disciplinas como mera curiosidade. É interessante saber que o próprio Aristóteles achava que o sangue era a “parte feminina” necessária para a reprodução da nossa espécie, por exemplo. Ou que a medicina da era moderna, citada por Hobbes, achava que os estímulos entre corpo e cérebro eram transmitidos por uma série de movimentos de cordas (uma bela explicação para quem não conhecia a energia elétrica). Mas, hoje, sabemos que essas e outras explicações antigas não são verdadeiras. Na filosofia, entretanto, o contrário acontece: estudar a história da filosofia não é diferente de estudar a própria filosofia. As mesmas perguntas ainda são feitas e os avanços da filosofia parecem se resumir em repensar antigos problemas e reformulá-los, aprimorá-los e qualificá-los. Portanto, filosofar requer um estudo ativo e engajado das questões ao longo da história.

Russel vai atribuir a “incerteza” da filosofia a dois aspectos importantes dessa disciplina:

► Os assuntos que eram estudados pela filosofia, quando criam um corpo de conhecimentos definitivos sobre eles mesmo, se desmembraram dela e se estabelecem em uma disciplina própria. Foi assim com a astronomia, com a física e, bem mais recentemente, com a psicologia. Nesse sentido, podemos dizer que a filosofia é “mãe” das outras disciplinas. Também podemos compreender que tudo que o “sobra” continua sob o domínio da filosofia.

► Outro aspecto, talvez o mais importante dessa disciplina, é que a filosofia lida com perguntas que nós, os seres humanos, não podemos evitar fazer, ainda que elas sejam impossíveis de responder.

O segundo aspecto revela o que Russel vai defender como sendo o valor da filosofia: a incerteza que é própria das suas investigações, juntamente com a grandeza dos objetos investigados, transforma quem a estuda. Mas, atenção: isso não quer dizer que você será uma pessoa melhor se apenas ler a “Crítica da Razão Pura”, de Kant, ou os escritos de qualquer outro filósofo. Russel defenderá que a incerteza das questões filosóficas suscita diversas possibilidades de respostas para quem filosofa e serve de vacina para as certezas dos preconceitos e do senso comum. A vida de quem nunca teve contato com a filosofia acaba, infelizmente, resumida ao cotidiano e possuirá falsas certezas. Podemos nos perguntar: “que graça tem viver assim?”

Ainda que as discussões filosóficas estejam constantemente em revisão, questionamento e aprimoramento, as suas disciplinas são organizadas em áreas de estudo específicas. Visualizar as divisões internas da filosofia nos ajuda a compreender melhor qual ou quais são os seus objetos de estudo.