Existencialismo

Você deve lembrar do conceito de Substância – muitas vezes também chamado de Essência – apresentado no conteúdo sobre Aristóteles no capítulo de Filosofia Grega. Este conceito atravessa a história da Filosofia: foi muito importante durante a idade média e também na modernidade, quando pensadores como Descartes, Spinoza e Kant dedicaram-se a problemas sobre a natureza do conhecimento e tiveram que recorrer à noção de substância ou essência para formular suas teses.

Com Sartre, este conceito sofre uma radicalização e tanto: para o filósofo, enquanto outras coisas no mundo têm sua essência dada, o homem precisa descobri-la. Note que você consegue identificar cadeiras, sejam elas de madeira, de ferro ou de acrílico, pois existe uma essência da cadeira que faz com que ela seja cadeira e não um outro objeto. Em “O Ser e o Nada”, Sartre sugere que, no caso do homem, a “existência precede a essência”, ou seja: o homem, a princípio, não é nada; primeiro ele existe e só a partir dessa existência vai adquirir uma essência fabricada com suas escolhas de vida.

Sem nenhuma essência que o defina de largada, o homem é livre para realizar seu projeto e isso o distingue dos outros animais. Sartre diferencia o “ser-em-si” dos animais, que existem apenas em si mesmos, e o “ser-para-si” do homem, que, dotado de consciência, é capaz de pôr-se de fora de si mesmo para se analisar.

O “ser-para-si”, que existe e mais nada, livre de essência e, portanto, terrivelmente angustiado, tem a consciência como uma ferramenta de liberdade, para fazer as escolhas que definirão sua essência. O que resulta da Filosofia Existencialista de Sartre é o homem compreendido por sua consciência e liberdade, para quem até mesmo ser passivo é uma escolha.

Sartre teve uma companheira, com quem viveu e ao lado de quem está sepultado, que também legou ao mundo uma importante obra filosófica. Simone de Beauvoir (1908-1986) escreveu ensaios que discorriam sobre a moralidade na perspectiva da liberdade radical apresentada no pensamento existencialista e também sobre o sentido da vida não como um dado, mas como projeto contínuo.

Feminismo e Construção Social

Simone de Beauvoir (1908-1986) publicou “O Segundo Sexo” pouco tempo depois do direito de votar ter sido concedido às mulheres na França. Neste livro, a história humana é apresentada de maneira inédita: pela primeira vez, inteiramente sob a perspectiva feminina. A autora inicialmente aborda aspectos biológicos, recorrendo ainda à Psicanálise, para compreender a noção de “macho superior” e do papel das mulheres nas primeiras sociedades. Em seguida, Beauvoir mostra, a partir de uma história de vida feminina, os processos que condicionam a feminilidade das mulheres como uma construção social. Ou seja, o que define o papel e o comportamento femininos resulta de algo construído socialmente e não de um dado puramente natural. Para ela, o papel que a mulher ocupava na sociedade era algo no meio do caminho entre um macho e um castrado.

A ideia de que o papel da mulher é definido em relação ao homem, e não como o de um sujeito autônomo, foi fundamental para o movimento feminista, que obteve, na obra da escritora, os fundamentos para empreender uma luta contra a desigualdade de gêneros.

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