O Terceiro Mundo na Guerra Fria

Pessoal, depois de observar os blocos capitalista e socialista na Guerra Fria, o que vocês acham de estudar os principais aspectos da América Latina e do Terceiro Mundo na Guerra Fria?

PRIMEIRO MUNDO E SEGUNDO MUNDO – Para vocês entenderem o “Terceiro Mundo”, é preciso conceituar o que seriam o “Primeiro-Mundo” e o “Segundo-Mundo”. Na Guerra Fria, os países de “Primeiro-Mundo” eram aqueles em estágio avançado de desenvolvimento – os países da América do Norte (EUA e Canadá) e da Europa Ocidental, bem como a Austrália e a Nova Zelândia. Os países de “Segundo-Mundo” eram aqueles pertencentes ao bloco socialista, como a URSS, a China, entre outros.

TERCEIRO MUNDO – Na Guerra Fria, o Terceiro-Mundo1 englobava um vasto número de países, abrangendo países na África, Ásia e América Latina. O subdesenvolvimento seria um elemento comum a quase todos esses países, ao mesmo tempo em que, no caso dos países africanos e asiáticos, a descolonização recente também constituía uma herança compartilhada. Por essa razão, é indispensável analisarmos aspectos referentes a esse processo, que se inicia no período do pós-guerra.

1 A nomenclatura Terceiro-Mundo ainda pode ser utilizada para diferenciar os países pobres dos países ricos. No entanto, atualmente é mais comum utilizarmos o conceito de “países em desenvolvimento” para classificar esse grande grupo de países, que representa cerca de 75% dos países do mundo.

CAUSAS DA DESCOLONIZAÇÃO – Com o fim da Segunda Guerra Mundial, as antigas potências coloniais já não possuíam condições econômicas e militares de manter suas possessões coloniais. Além disso, a conjuntura da Guerra Fria acelerou a descolonização, tendo em vista que ambas as superpotências apoiavam os movimentos pela descolonização. A criação da ONU e a promoção do princípio da autodeterminação dos povos também contribuíram para o processo de descolonização. Por fim, é importante sublinhar para vocês que, ao
estudarmos o processo de descolonização, passamos a entender um pouco a situação de dependência econômica, fragilidade institucional e caos social que atualmente impera em parte dos países que conquistaram suas independências nesse período.

MODELOS DE INDEPENDÊNCIA – Pessoal, vocês precisam ter em mente que os processos de independências ocorreram, basicamente, por duas vias: a primeira é a negociada com a metrópole e a segunda é a ruptura violenta e conflitiva.

DESCOLONIZAÇÃO NA ÁSIA – O período do pós-guerra teve grande impacto no processo de descolonização asiático. Entre 1943 e 1979, a independência política se tornou realidade para 27 países asiáticos. Em muitos desses casos, o processo de independência foi violento e, não raro, contou com a participação – direta e indireta – dos EUA e da URSS, que buscavam ampliar suas zonas de influência no plano mundial. Dito isso, vocês agora verão os mais relevantes processos de independência na porção sul e oriental do continente asiático, com destaque para a independência da Índia (1947), da Indonésia (1949) e da antiga Indochina francesa (1954)2.

2 Além desses, é importante mencionar os processos de independência na Malásia, Filipinas e Birmânia.

ÍNDIA – Localizada na Ásia Meridional, a Índia por muito tempo foi considerada como a “Joia da Coroa”3 do Império Britânico, que, desde o século XIX, havia incorporado a região aos seus domínios. Os indianos, em sua ampla diversidade cultural e religiosa, vinham impondo às autoridades inglesas uma forte resistência desde o final do século XIX. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, esse quadro se acentuou ainda mais, possibilitando a emergência da figura de Mahatma Gandhi, líder pacifista que desempenhou um papel central na Independência da Índia. Havia, porém, outros movimentos contrários ao domínio colonial, como era o caso da Liga Muçulmana, fundada em 1905. Os britânicos, explorando esses conflitos internos, acabaram por dividir território em República da Índia, de maioria hindu, e República do Paquistão (Oriental e Ocidental), de maioria muçulmana. Em 1972, após um violento conflito, o Paquistão Oriental separou-se do Ocidental e passou a ser conhecido como Bangladesh. É importante salientar que, em 1948, também houve, na região do sub-continente indiano, a independência do Sri Lanka, antigo Ceilão.

3 A grandeza do território indiano, a riqueza de seus recursos e um amplo mercado consumidor para os produtos britânicos acabou credenciado a Índia a receber o título de “Joia da Coroa”.

INDOCHINA FRANCESA – Além da Índia, vocês precisam saber que a independência da Indochina foi um importante momento na descolonização asiática, sobretudo por conta de seus desdobramentos. A região, que desde 1860 era controlada pelos franceses, foi ocupada pelos japoneses durante a Segunda Guerra. Com o fim da guerra, os franceses tentaram retomar suas colônias, porém, encontraram na região a resistência de movimentos nacionalistas. Eclodiu, então, a Guerra da Indochina (1946-1954), que chegou ao fim apenas com a assinatura de um acordo internacional, o qual dividia o seu território em três países independentes: Laos, Camboja e Vietnã.

VIETNÃ – O Vietnã, porém, ficaria temporariamente dividido em duas porções. O acordo assinado em Genebra previa a realização de eleições gerais destinadas à reunificação do país, mas esse processo ficou inviabilizado por conta da política de hostilidade promovida pelo governo do Vietnã do Sul. Considerando esse impasse, a Frente de Libertação Nacional (FLN), fundada em 1960, passou a atuar no Vietnã do Sul com o objetivo reunificar o país em um regime socialista. Iniciaram-se, assim, os conflitos no Vietnã, que, desde 1964, passou a contar com a ativa participação dos EUA. Em 1975, ocorreu a reunificação do país, que passou a se chamar República Socialista do Vietnã.

INDONÉSIA – Além desses processos de descolonização, é preciso destacar a independência da Indonésia (1949), antiga colônia holandesa. Após quatro anos de guerra (1945-1949), a Indonésia, sob liderança de Ahmed Sukarno, conquistou oficialmente sua independência. Conforme veremos, a independência da Indonésia é relevante por conta da participação de Sukarno para a emergêngia do Movimento dos Não-Alinhados.

CONFERÊNCIA DE BANDUNG – Reunindo 29 países afro-asiáticos, o documento final da Conferência destacava 4 pontos principais: 1) defesa da emancipação dos territórios ainda dependentes; 2) rejeição da divisão internacional em blocos socialista e capitalista; 3) condenação do racismo e da corrida armamentista; 4) proclamação do direito de autodeterminação.

MOVIMENTO DOS NÃO-ALINHADOS – Anos após a Conferência de Bandung (1955), aconteceu a Primeira Conferência dos Países Não-Alinhados (1961) na Iugoslávia. A Conferência convergia com a perspectiva de Tito, líder político da Iugoslávia, de buscar uma terceira via nas relações internacionais. Entre as figuras de maior destaque na Conferência, é possível citar: Nasser (Egito), Sukarno (Indonésia) e Nehru (Índia).

NORTE DA ÁFRICA (MAGREB) – Agora, estudaremos a descolonização no Norte da África. No Egito, a presença semicolonial suscitava o fortalecimento de movimentos antibritânicos, levando à queda do rei Faruk através de um golpe militar (1952). Assumia, então, Gamal Abdel Nasser, um dos principais ícones do nacionalismo árabe e do pan-arabismo4. Manifestações de cunho anticolonial também aconteceram nas colônias francesas da Tunísia, do Marrocos e da Argélia. Os dois primeiros conquistaram sua independência perante a França (1956), enquanto que, no caso argelino, a metrópole resistiu à descolonização. Sem aprender nada com os conflitos na Indochina, os franceses entraram em uma guerra com os movimentos argelinos de libertação nacional, estendendo-se de 1954 até 1962.

4 A ideologia do “pan-arabismo” encontra-se intrinsecamente relacionada às lutas contra a existência do Estado de Israel.

ÁFRICA NEGRA (OU SUBSAARIANA) – O desgaste ocasionado pela guerra na Argélia provocou um movimento de antecipação por parte das potências europeias, que começaram a buscar formas pacíficas de independência para os países da África Negra ou África subsaariana. Em 1960 – o “ano africano” – 15 países adquiriram o status de independentes5. Entre 1961 e 1966, outros nove países tornaram-se independentes, seguindo o modelo pacífico de independência6.

5 Camarões, Congo-Brazzaville, Gabão, Chade, Rep.Centro-Africana, Togo, Costa do Marfim, Daomé (atual Benin), Alto Volta (atual Burkina-Faso), Níger, Nigéria, Senegal, Mali, Madagascar, Somália, Mauritânia e Congo Leopoldville (atual Congo-Zaire).

6 Serra Leoa, Tanzânia, Uganda, Ruanda, Burundi, Quênia, Gâmbia, Botswana e Lesoto.

ÁFRICA DO SUL – Com histórico de colonização holandesa e, posteriormente, inglesa, vocês provavelmente sabem que o caso da África do Sul é muito particular. A independência do país veio junto com a institucionalização de um regime segregacionista – apartheid -, que colocava a maioria da população negra em condições de inferioridade social, econômica e política. Logicamente, o apartheid gerou revoltas de grupos negros, alguns desses com a liderança de Nelson Mandela. Em 1993, após intensa pressão da comunidade internacional, o governo sul-africano aprovou reformas democráticas. Em maio de 1994, após a realização de eleições multiétnicas, Mandela foi eleito o primeiro presidente negro da história do país.

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