O Século XXI e a Ascensão dos Emergentes

Conforme visto, os anos 1990 foram dominados pela ideologia do neoliberalismo e pela aplicação das suas recomendações ao mundo em desenvolvimento. A insuficiência dos resultados obtidos com o neoliberalismo contribuiu para que os países em desenvolvimento passassem a cultivar um certo ceticismo com relação a essas ideias.

Somada a isso, a política militarista dos EUA durante os mandatos de George W. Bush (2000-2008) provocou uma certa desconfiança em relação à liderança norte-americana nas relações internacionais. Entre as reações tomadas pelos países em desenvolvimento, houve o aprofundamento do que se convencionou chamar de “Relações Sul-Sul”, geralmente coordenadas pelos chamados “países emergentes”. Essas relações podem ser entendidas como um modelo de cooperação internacional entre os países em desenvolvimento, que compartilham de experiências e desafios comuns. Nesse sentido, vamos pontuar algumas razões que colocam Brasil, Rússia, Índia e China no grupo dos emergentes:

Em primeiro lugar, os quatro países mencionados – com o acréscimo da África do Sul – se encontram entre as maiores economias do mundo, ou seja, esses países possuem um importante peso econômico nas relações internacionais, correspondendo a mais de 20% do PIB mundial. Além de recursos econômicos, os BRICS também possuem importantes recursos demográficos, políticos e militares. A China e a Rússia possuem assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU, ao mesmo tempo em que ambos os países são potências nucleares reconhecidas. Além disso, os BRICS, em conjunto, correspondem por 46% da população mundial. Em segundo lugar, esses quatro países vêm buscando “um lugar à mesa” nas principais instituições internacionais, como a ONU, o FMI, o BIRD e a OMC. Ou seja, esses países buscam realizar reformas nessas instituições, de modo a ampliar tanto a sua participação quanto a dos países em desenvolvimento.

É possível destacar a atuação desses países no G20 (Comercial e Financeiro), a busca por reformas no FMI e a reivindicação (brasileira e indiana) por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Além disso, esses países possuem, em maior ou menor medida, uma inserção internacional independente, a começar pelo fato de que nenhum deles é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Esse ponto os diferencia de países como a Austrália e a Coreia do Sul, tendo em vista que a projeção externa dos BRICS não se encontra submetida a nenhum “sistema de aliança” militar com os EUA (HURREL, 2009).

Com o acréscimo da África do Sul, em 2011, os BRICS passaram a realizar iniciativas que têm o potencial de contribuir para a gestão da ordem internacional. Por exemplo: vocês sabiam que, em 2014, houve a criação de um Banco de Desenvolvimento conhecido como Banco dos BRICS? Pois então, essa é uma iniciativa que ilustra a importância do relacionamento entre os países emergentes, pois a criação do Banco pode facilitar a realização de investimentos nos países em desenvolvimento. Dito tudo isso, é necessário sublinhar que os BRICS, ao pressionarem por reformas nas organizações internacionais e criarem novos espaços de cooperação, atuam como promotores de um mundo multipolar.

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