Vocês já devem ter percebido que o Modernismo Brasileiro tem, como se diz, muito “pano pra manga”, né? Quer dizer, existem muitos aspectos a serem pensados sobre a Literatura Modernista. No capítulo anterior, nosso foco foi a Poesia Moderna, e agora estudaremos a Prosa Moderna.
O momento mais importante da produção literária na Prosa Moderna – e também o momento mais rico em termos de produção literária – é o Romance de 30, também chamado de Neorrealismo.
Como sempre, para termos uma visão maior de qualquer assunto, precisamos pensá-lo em relação a outras esferas da realidade, jamais isoladamente! Como já refletimos, a arte – assim como os sujeitos que a produzem – faz parte de um contexto de produção. Vamos pensar no contexto de produção do Romance de 30? Quais são as motivações sociais e econômicas para tal fenômeno artístico?
O Contexto Social e o Romance de 30
O mundo nos anos 1930:
► Quebra da bolsa de Nova Iorque (1929);
► Crise do sistema capitalista;
► Ascensão do nazi-fascismo.
O ano de 1929 teve forte influência em algumas regiões do globo durante toda a década de 30. O acontecimento marcante desse ano é a famosa quebra da bolsa de Nova Iorque. Houve uma grande crise do sistema industrial capitalista, o que influenciou muito a realidade e a visão de mundo das pessoas, que passaram a ter uma perspectiva carregada de pessimismo. Além dos fantasmas da Primeira Guerra Mundial, junto com os Estados Unidos, dezenas de outros países entraram em um tenso período de desemprego. Milhares de homens e mulheres – especialmente os mais pobres – sofreram com essa situação econômica.
Além disso, a década de 30 é a sombria década que assistiu à ascensão do Nazismo e do Fascismo. Regimes ditatoriais se espraiando pela Itália, Alemanha, Rússia, Espanha e levando às barbáries da Segunda Guerra Mundial.
Aqui, no Brasil, Getúlio Vargas assume o poder em 1930. Se, no início, tínhamos uma democracia cada vez mais tenra, este governo vai mostrar o seu caráter ditatorial com o começo do Estado Novo, a partir de 1937. Um governo que vai estabelecer censura, uma polícia vigilante e cruel que vai silenciar os opositores, tornando-se cada vez mais parecido com os modelos que tínhamos na Europa.
Sigmund Freud, em um texto chamado Mal Estar na Civilização, de 1930,afirmou que chegamos em um ponto da história em que o homem poderia exterminar até o último dos homens com seu poderio bélico. Então, observem como esses fatores sociais estão alterando a maneira como os intelectuais percebem a realidade.
No Brasil, essa realidade adversa vai fazer com que os escritores voltem os olhos para a realidade social, o que permitirá o ressurgimento do Realismo, pois há uma realidade nada agradável e os escritores sentiram-se impelidos a trazer esse contexto social para seus textos literários.
O Romance de 30 é, por isso, também chamado de Neorrealismo. Temos uma retomada de uma escola literária, ou de um estilo artístico, que tinha por objetivo, no século XIX, retratar a realidade social.
Muitas vezes, quando se fala no Realismo ou no Neorrealismo, se fala da pretensa objetividade dos escritores ao descrever a situação do país. É importante destacarmos que não existe visão de mundo neutra. Olhamos para o mundo a partir de tudo o que somos e, ao escrever, sempre temos uma intenção. A intenção dos escritores do Romance de 30 era fazer denúncia de uma realidade, denúncia da desigualdade social, denúncia de um governo entendido como não democrático.
Dentro do Romance de 30, surge um padrão estético comum. Não é que os escritores tenham se juntado para pensar essa ideia em grupo, mas, de alguma forma, surgiu, no horizonte estético do período, o padrão de retratar as diversas partes do Brasil. Então, teremos o Regionalismo do Romance de 30, ou seja, diversos autores escrevendo sobre diferentes regiões brasileiras.
Em termos estéticos, os escritores serão bem mais comportados do que a galera que estava produzindo nos anos 20. Esses autores vão rejeitar o experimentalismo e produzir narrativas muito lineares e acessíveis. E qual o motivo desse comportamento? Podemos pensar que, uma vez que os autores, ao denunciar a opressão e a miséria social, querem se comunicar com o grande público, precisam de uma linguagem e de uma estrutura narrativa mais abrangente, mais acessível, de modo que o experimentalismo anterior não será bem-vindo.
Principais características do Neorrealismo:
► Retrato da realidade social;
► Regionalismo;
► Narrativas lineares e acessíveis ao grande público;
► Rejeição do experimentalismo;
► Linguagem mais popular.