Poetas: Paulo Leminski

Paulo Leminski (1944-1989)

Se vocês nunca leram Paulo Leminski, é importante não perder essa experiência. E, antes de mais nada, que tal experienciar um dos poemas mais conhecidos do autor já agora? Respira fundo e lê:

Toda a poesia

Isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além.

(LEMINSKI, Paulo. Toda a poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013)

Conhecido por seus poemas curtos, Paulo Leminski foi um poeta curitibano, um escritor com uma biografia muito interessante. Se ele não foi exatamente aquilo que era, com certeza chegou bem perto.

Leminski morreu aos 44 anos de cirrose hepática, a mesma doença que matou Fernando Pessoa. Aliás, os dois morreram com a mesma idade! Toda a intensidade, a precocidade e a versatilidade da vida de Paulo Leminski fazem sentido quando a gente pensa que sua vida foi tão curta. Se é para morrer jovem, então, que a vida seja intensa!

Leminski foi professor de História e de Redação em cursos pré-vestibulares e também foi professor de Judô. Aos 14 anos, viveu um ano em mosteiro em São Paulo, no qual teve a oportunidade de estudar muito. Desde criança, mostrou que seria um homem muito intelectual e com vastos conhecimentos. Muito cedo, aos 20 anos, estreou na poesia, tendo publicado 5 poemas na revista Invenção, dirigida por Décio Pignatari, um dos ícones da poesia concreta – estilo com o qual Leminski se identificou muito no início de sua carreira.

Como a obra de Leminski foi muito influenciada pelos tropicalistas e pelos concretistas, seus poemas dançavam pelo espaço da página, misturando elementos da publicidade às poesias, estabelecendo relações entre poesia e artes visuais. Enfim, as palavras de ordem no trabalho de Leminski eram liberdade e criatividade!

Estudioso da cultura japonesa, Leminski foi autor de vários haikais, que são poemas da tradição japonesa que geralmente tem três versos. Como esse aqui:

Vazio agudo
ando meio
cheio de tudo

(LEMINSKI, Paulo. Toda a poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013)

As principais obras do autor são Quarenta Clics em Curitiba (1976), Caprichos e Relaxos (1983), que reúne obras que ele havia publicado independentemente sem vínculo com editoras, e sua última obra é Distraídos Venceremos (1987).

Se vocês se interessaram por esse grande cara, leiam mais de suas poesias e assistam a Ervilha da Poesia, um documentário para a televisão feito em 1985 no qual vemos o poeta praticamente dando uma aula de poesia.

não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino.

(LEMINSKI, Paulo. Toda a poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013)

Pausa Para a Poesia?

Contranarciso

em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas
o outro
que há em mim
é você
você
e você
assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós.

(LEMINSKI, Paulo. Toda a poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013)

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