Ana Cristina César (1952-1983)
Paulo Leminski e Waly Salomão podem até, de alguma forma, ser considerados poetas um pouco marginais, pois não são conhecidos pelo grande público, não aparecem em muitos manuais e livros didáticos de literatura, nem são comentados nas escolas por professores mais tradicionais. No entanto, marginal mesmo foi a poetisa Ana Cristina César, invisível à crítica literária, até por ser mulher. E, dentro dessa questão de gênero, cabe lembrar que, para os críticos tradicionais, houve espaço para poucas grandes mulheres escritoras na história da literatura brasileira: Clarice Lispector, Cecília Meireles e, em menor escala, Raquel de Queiróz. A história da literatura brasileira foi escrita basicamente por homens.

Data de acesso: 15/03/2019
Ana C. viveu da literatura e viveu a literatura! Mulher sensível, sentia a vida com todos os poros, com intensidade. Os sensíveis geralmente são intensos e, segundo dizem, ela foi uma mulher muito intensa.
Em carta para um amigo escreveu:
“Não sei como poderei pegar no sono. A literatura me perturba. Uma caixa cheia de cartões-postais me perturba. A renúncia me perturba. Até uma caixa d’água, um otorrino gauche, um índice onomástico. Tomo tudo na veia”.
Ana C. escrevia compulsivamente, escrevia como quem respira. Segundo um poeta, amigo da autora, Ana ditava para a mãe o que ela queria escrever mesmo antes de aprender a lidar com a palavra escrita. Com dez anos de idade, já tinha um caderno cheio de poemas.
Tudo o que Ana C. escreveu virou Literatura, virou matéria para literatura. E esse é um aspecto importante do trabalho da autora. Diversos gêneros compõem o conjunto de sua obra. Poesia, manuscritos, cartas e diários, que hoje são lidos e estudados.