Outra linhagem importante dos movimentos sociais diz respeito à luta travada por grupos subalternizados devido à sua origem étnico-racial. Estes movimentos são particularmente importantes em países e/ou sociedades pós-coloniais e pós-escravocratas, como o Brasil e os Estados Unidos. Neste último, a questão negra sempre teve um papel predominante no debate social, principalmente devido à permanência de leis segregacionistas em muitos estados sulistas após a Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana (1861-1865). Já no Brasil, destaca-se o tema do racismo latente, isto é, a permanência de preconceitos contra negros e
mestiços na vida social, cultural e econômica não obstante a ideologia da democracia racial vigente desde os anos 1930 em nosso país.
Nos Estados Unidos, a ação coletiva do movimento negro conseguiu com sucesso a abolição das leis segregacionistas que ainda vigoravam em alguns estados da federação. Esta luta se deu no escopo de um movimento maior por direitos civis (civil rights) que, nos anos 1960, também incluía o feminismo, a revolução sexual, o pacifismo (na época, os EUA viviam uma guerra nuclear de nervos com a União Soviética e uma guerra de fato contra a guerrilha comunista do Vietnã do Norte) e princípios do que depois viria a se constituir como a pauta ambiental. Conjuntamente, todos esses movimentos passaram a ser chamados pelos sociólogos de “novos movimentos sociais”, em contraste com o velho
sindicalismo do mundo do trabalho.
A distinção entre movimentos reformistas e revolucionários era muito visível na questão negra estadunidense. Por um lado, o grupo conhecido como Panteras Negras adotava uma postura mais confrontativa contra a ordem social e seus aparatos de repressão como a polícia, não raro fazendo uso de expedientes violentos ou de ação direta. Por outro, o reverendo Martin Luther King Jr. (1929-1968) e seus seguidores defendiam uma postura integracionista e pacifista, conhecida como desobediência civil não violenta.
Outro país importante em termos de lutas raciais é a África do Sul, que entre 1948 e 1981 viveu sob um regime segregacionista particularmente cruel chamado Apartheid. Durante este período, a maioria negra deste país não gozava dos mesmos direitos da minoria branca de origem inglesa e holandesa, o que gerava uma situação política e social injusta e insustentável. Inicialmente na ilegalidade e perseguidos pelo governo, os movimentos contra o regime segregacionista acabaram ganhando apoio externo e lograram isolar a África do Sul diplomaticamente, o que culminou com a queda do Apartheid e a refundação do país em termos democráticos.
No Brasil, como em muitos outros países latino-americanos, o movimento negro tem se destacado por uma luta em duas frentes diferentes: no campo social e jurídico, tem defendido a promulgação de medidas que atenuem a desigualdade entre brancos e não brancos nos mundos da educação, do trabalho, do serviço público e da participação política, como as ações afirmativas. Um bom exemplo são as cotas raciais nas universidades públicas federais e estaduais. Já no campo cultural, o movimento negro brasileiro tem lutado pela valorização e reconhecimento do legado africano na sociedade brasileira, seus credos, símbolos e tradições. Em tempos recentes, a defesa dos cultos de matriz africana como o candomblé e o batuque contra a intolerância religiosa tem se destacado nas ações do movimento negro, bem como suas críticas à ideologia da democracia racial – segundo a qual não haveria racismo no Brasil – e à apropriação cultural de símbolos afro-brasileiros. O reconhecimento de comunidades quilombolas e a demarcação de seus territórios também tem sido uma pauta importante do movimento negro, o que o aproxima das lutas protagonizadas pelos indígenas e camponeses.