Na América Latina, uma linhagem particularmente importante dos movimentos sociais é aquela que, protagonizada por grupos subalternos não urbanos como camponeses ou sociedades indígenas, tem lutado por seus territórios tradicionais e oferecido resistências à expansão das fronteiras agrícola e mineral em termos puramente extrativistas. No Brasil, um país historicamente dominado pela grande propriedade agrícola e pastoril, a luta pela terra tem sido um tema central desde a época colonial, mas que se acentuou profundamente a partir da chamada Lei de Terras do II Reinado, promulgada em 1850.
Em 1984, foi criado o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, mais conhecido pela sigla MST. De inspiração marxista e inicialmente revolucionária, o MST se opunha ao modelo de colonização e reforma agrária instituído pela Ditadura Militar (1964-1985), abertamente favorável aos interesses do latifúndio e da remoção das pequenas e médias propriedades para áreas cada vez mais remotas e improdutivas. Ao longo das décadas de 1990 e 2000, o MST protagonizou distintos episódios de ação direta no campo e na cidade, sobretudo a ocupação de propriedades improdutivas e prédios públicos ligados ao Ministério da Agricultura e ao Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em protesto.
Mais recentemente, a questão indígena tem ganhado destaque no debate político brasileiro, sobretudo devido à oposição de comunidades tradicionais a grandes projetos de infraestrutura que alteram seus territórios originais. Da mesma forma, a ação da chamada bancada ruralista no Congresso Nacional – grupo de parlamentares que defendem os interesses do agronegócio – tem se caracterizado por uma hostilidade crescente aos interesses e reivindicações das sociedades tradicionais, questionando e colocando em cheque o atual sistema de demarcação de terras indígenas e quilombolas.