Movimento Modernista

É comum nos depararmos com a ideia de que o Brasil não possui autenticidade e prefere copiar os modelos culturais das nações desenvolvidas, principalmente as da Europa e os Estados Unidos. Sabemos, no entanto, que esta é uma ideia errônea, já que a produção cultural brasileira é muito dinâmica e variada em diversos âmbitos, que vão da música à culinária, do esporte às artes plásticas, da ciência à religião. Por outro lado, não deixa de ser verdade que nosso lugar no
mundo ainda é subalternizado e, bem por isso, sofre com diversos processos de dominação e hegemonia cultural que vêm de fora.

Foi exatamente examinando este paradoxo que alguns intelectuais e artistas paulistas do início do século XX chegaram a uma conclusão polêmica e fascinante: assim como os índios canibais que deglutiam os primeiros exploradores europeus do século XVI, também nós, brasileiros modernos, seríamos um pouco antropófagos, ainda que em sentido metafórico.

Trocando em miúdos, o que caracterizaria a sociedade brasileira seria uma constante incorporação de elementos vindos de fora para, logo depois, serem transformados à luz de nossas próprias referências culturais. Esta ideia foi lançada inicialmente pelo Movimento Modernista identificado com a Semana de Arte Moderna de 1922. Mais especificamente, com o Manifesto Antropofágico, assinado por Oswald de Andrade e outros artistas vanguardistas. No entanto, traços dessa postura podem ser identificados em movimentos culturais posteriores, como a Tropicália, dos anos 1960-1970, o Cinema Novo, desta mesma época, e também o movimento Mangue Beat, em Recife.

Atualmente, o intenso uso de redes sociais pela população brasileira e sua imensa criatividade na imitação e transformação de elementos culturais vindos de fora podem ser considerados bons exemplos da permanência desse espírito “antropófago” da nossa cultura, capaz de assimilar o que vem do exterior sem, contudo, perdermos nossa identidade e as referências que nos constituem.

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