Vocês sabem o que é um manifesto?
Certamente essa palavra não é incomum entre vocês, estudantes, que já devem ter ouvido falar não só do Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, de 1848, como, talvez, conheçam os manifestos artísticos que se tornaram muito populares no início do século XX, como o Manifesto Dadaísta e o Manifesto Antropofágico.
Geralmente, nas escolas, somos expostos aos Manifestos Artísticos do século XX de uma maneira pouco reflexiva ou de um modo que reduz a compreensão desses textos-movimentos a um conjunto de características a serem memorizadas, o que acaba tornando o estudo deste período da história da arte e destes documentos bastante chato.
No entanto, conhecer um pouco mais a fundo sobre esses textos pode ser bem interessante se vocês gostam de um pouco de desobediência, de um pouco de questionamento das normas e de um pouco de criatividade. Isso porque os manifestos artísticos do século XX questionaram o que era arte e modificaram a forma com que as pessoas entendiam o que um artista podia fazer.
Imagine que você é um(a) pintor(a) ou um(a) poeta e que, ao pintar um quadro ou escrever um poema, você precise seguir algumas normas um pouco restritas de criação, do contrário, sua arte não seria aceita ou não seria bem vista. Essas normas tolhem a sua liberdade, mas você sente que seu quadro ou o seu poema tem realmente mais vida da forma como você o concebeu. O que você faz? Se sujeita às regras ou as desobedece?
Se pensarmos que obras da literatura, da música ou da pintura, que hoje são consideradas importantes, foram originais justamente porque se desviaram das normas, então pode ser que o desvio seja realmente a melhor rota a pegar quando falamos de arte.
O que os manifestos artísticos têm a ver com tudo isso? Bom, grande parte desses textos foram atos de revolta contra o que, na época, era considerado como belas-artes ou como “obra de arte”, criações feitas para serem admiradas pelo público e julgadas pelos críticos de acordo com padrões estéticos de beleza. De forma geral, graças a esses manifestos e às contínuas rupturas artísticas, o século XX se mostrou como um grande divisor de águas, no sentido de modificar a compreensão daquilo que chamamos de arte.
Já no século XIX, suaves modificações começaram a ocorrer abrindo caminho para o século seguinte. O movimento Impressionista, por exemplo, já começa a alterar as concepções sobre espaço e percepção.
Para vocês entenderem do que estamos falando, vamos fazer um paralelo entre duas pinturas que retratam paisagens.
A primeira pintura pertence ao pintor holandês Johannes Vermeer. Brevemente, sem grandes análises, podemos observar o realismo da obra que, em alguns pontos, pode até ser confundida com uma fotografia.

Disponível em: https://institutopoimenica.com/2012/08/29/vista-de-delft-jan-vermeer/
Data de acesso: 22/08/2019
Imagine que o seu olhar e o olhar de gerações inteiras de apreciadores de arte estão acostumados com essa representação das formas da realidade e, com isso em mente, imagine a reação geral ao, em oposição, se deparar com uma paisagem retratada da maneira da outra pintura.
Impressão: nascer do sol, de Claude Monet, “deturpa” suavemente a concepção de realismo e objetividade dentro da arte e vai abrindo espaço para outros desvios, para outras formas de se pensar a representação das maneiras sob as quais podemos ver o mundo. Muitos artistas que começaram a se desviar da tradicional objetividade e realismo foram criticados a partir de um velho paradigma, que precisava ser questionado não sem algum exagero ou violência, considerando a rejeição que as inovações artísticas sofriam. Daí, em linhas gerais, o surgimento dos Manifestos Artísticos do século XX.

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Impressao,_nascer_do_sol
Data de acesso: 22/08/2019
O Que é Um Manifesto?
Segundo o historiador Eric Hobsbawm, os manifestos são um fenômeno típico do século passado. Manifestos são textos que têm um caráter persuasivo e que se constituem como uma declaração pública de princípios e como um chamado à ação para modificar algo que o grupo de autores percebe como um problema. O texto de um manifesto é, em geral, dissertativo-argumentativo, esboça a análise de uma situação vista como problemática e traz soluções para esta realidade, soluções que devem ser tomadas em coletivo. Em outras palavras, é um chamado à ação. Pensemos no final do Manifesto do Partido Comunista, quando os autores escrevem: “Trabalhadores do mundo, uni-vos”.
A criação dos manifestos artísticos do início do século XX, como o Manifesto Dadaísta, por exemplo, responde a uma necessidade dos artistas de terem voz nos meios de comunicação que, em geral, julgavam as obras de arte a partir de conceitos que os pintores, poetas, escultores e músicos dos movimentos de vanguarda queriam destruir.
Para Paul Menezes, as artes plásticas do século XX, por exemplo, representavam algo completamente novo e divergente de tudo o que fora feito até então e essas transformações, é claro, foram migrando para outras artes, como a literatura.