O Manifesto Surrealista é um texto de autoria do escritor francês André Breton. Publicado em 1924, dialoga com o mesmo objetivo do manifesto dadaísta de romper com paradigmas convencionais sobre o que é arte e, especialmente, neste caso, sobre as formas como se produz arte.
Vocês, estudantes, certamente já se depararam com algum bloqueio, dificuldade ou preguiça na hora de escrever uma redação ou um trabalho escolar. Ou, ainda, talvez vocês escrevam músicas ou poemas ou narrativas e sabem que nem sempre é fácil criar. Agora, imaginem que, diante de uma folha em branco, vocês simplesmente “soltem a mão” e comecem a escrever tudo o que vier à mente, sem parar. Imagine que vocês comecem simplesmente a reproduzir os pensamentos, não se importando se eles farão sentido, se eles serão coerentes ou se haverá alguma relação entre eles.
Pois bem, se vocês fizessem isso, estariam se utilizando do chamado método da “escrita automática”, descoberto, por assim dizer, por André Breton, em 1919, e que é uma das bases do movimento surrealista ou uma das bases de os artistas surrealistas construírem suas obras.
Trecho:
“Certa noite, então, antes de adormecer, percebi, nitidamente articulada, a ponto de ser impossível mudar-lhe uma palavra […], frase que me parecia insistente, frase, se posso ousar, que batia na vidraça”.
BRETON, André. Manifesto do Surrealismo. São Paulo: Brasiliense, 1985. Disponível em: http://www.culturabrasil.org/zip/breton.pdf Acesso em 18 de abr. 2019

Disponível em: https://www.pinterest.nz/pin/749497562965687630
Data de acesso: 22/08/2019
Breton começou a observar que, quando estava em plena solidão ou quando estava meio dormindo, frases lhe vinham à mente e ele não sabia exatamente como ou de onde. Há um homem cortado em dois na janela, por exemplo, é uma dessas estranhas frases. A partir de então, o autor passou a anotar essas sentenças e a ficar impressionado com o fato de que nós, na verdade, não temos controle sobre nossos pensamentos.
Daí surge uma lógica de trabalho nunca antes vista na literatura. Breton passa a escrever os próprios pensamentos sem nenhuma inibição, sem nenhum cerceamento. Por mais veloz que fossem, acreditava o autor, eles podiam ser registrados.
Breton afirmava que o repertório de imagens que ele havia criado com essa escrita automática não poderia ser produzido com uma escrita calculada, que obedecesse às regras convencionais do uso da língua.
Dessa forma, aqueles que adotavam o método de escrita automática acabavam entrando em um profundo universo de autoconhecimento e observação da própria mente. Ou seja, a escrita surrealista tinha por objetivo a chegada ao próprio inconsciente do artista. Isso acontece, também, com outro famoso método adotado pelos surrealistas que era o de escrever/descrever os próprios sonhos.
No Manifesto, como podemos ler no trecho abaixo, há uma grande exaltação da imaginação e um estímulo ao desrespeito às regras e às normas.
Trecho:
“Entre tantos infortúnios por nós herdados, deve-se admitir que a maior liberdade de espírito nos foi concedida. Devemos cuidar de não fazer mau uso dela. Reduzir a imaginação à servidão, fosse mesmo o caso de ganhar o que vulgarmente se chama a felicidade, é rejeitar o que haja, no fundo de si, de suprema justiça. Só a imaginação me dá contas do que pode ser, e é bastante para suspender por um instante a interdição terrível”.
BRETON, André. Manifesto do Surrealismo. São Paulo: Brasiliense, 1985
Nas artes plásticas, um dos nomes de maior destaque dentro do movimento surrealista foi Salvador Dalí, artista catalão que trazia para suas obras o universo fantástico e surreal dos sonhos.