A Luta Política Continua!

Lembra que falei anteriormente que, em um regime ditatorial, a principal sustentação está na ilusão democrática? Pois bem, na ditadura civil-militar brasileira isso aconteceu com o bipartidarismo. Ou seja, a partir de 1964, os militares disseram que os partidos tradicionais existentes no Brasil (UDN, PDT, PCdoB, PCB, etc…) não deveriam mais existir; o multipartidarismo traria muitas contrariedades para uma ditadura e os militares queriam se livrar disso. Dessa forma, com o bipartidarismo, apenas dois partidos poderiam existir durante a ditadura.

De um lado, representando o partido dos que apoiavam a ditadura, estava a ARENA – Aliança Renovadora Nacional. De outro lado, representando os partidos de centro-esquerda e esquerda, partidos que representavam a resistência à ditadura, estava o MDB – Movimento Democrático Brasileiro.

Esta aparência democrática ajudou a ditadura a se manter por um tempo. Entretanto, não era tão democrático assim, na prática. Os membros do MDB, por serem membros de outros partidos antes da Ditadura, eram perseguidos e, por vezes, presos e torturados. A política para quem não apoiava a ditadura era cruel.

Entretanto, nenhum regime consegue ser invisível por muito tempo. A ditadura começou a perder força no campo político a partir da segunda metade dos anos 1970. Por isso é que se diz que foi a partir do governo de Geisel (1974-1979) que se iniciou uma abertura política, ou seja, um processo lento e gradual que devolvia a política brasileira à democracia. Mas não se engane, não foi tão fácil. Todas as medidas foram lentas.

Em 1976, a Lei Falcão inaugurou uma igualdade política no regime. Essa lei foi responsável por igualar a propaganda política na televisão entre ARENA e MDB – antes, obviamente, a ARENA tinha muito mais visibilidade.

Mas o fato de existir uma lenta e gradual abertura política não significa que a repressão tenha acabado. Tanto é que, em 1975, um dos principais jornalistas brasileiros foi assassinado pelos militares. Vladimir Herzog foi encontrado enforcado em uma janela de menos de um metro de altura. Na época, os militares afirmavam ser suicídio, mas ficou-se sabendo, pouco depois, que foi assassinato.

O clima nos anos 1970 era de extrema instabilidade política e social. As repressões a manifestações de rua na década anterior não tiveram o efeito desejado, que era o de desencorajar os jovens. A resistência aumentou, e o MDB, Movimento Democrático Brasileiro, também cresceu. Ao final da década, o partido era tão grande que conseguiu pressionar politicamente os líderes militares e conseguiu uma anistia.

A anistia do final dos anos de 1970 perdoou muitos políticos, jornalistas, músicos, intelectuais e militantes de movimentos sociais e de guerrilha urbana que tinham lutado contra a ditadura. Isso significava que tudo tinha acabado e que a ditadura iria terminar? Não. Mas já era um indício de que algumas coisas poderiam mudar e de que a disputa pela legalidade estava mais próxima.

O bipartidarismo foi vencido e, em 1979, muitos partidos conseguiram voltar à legalidade. Foi o caso dos partidos mais antigos, como o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e o PDT, surgido no seio do PTB. Mas também novos partidos surgiram, como é o caso do PMDB, PT e PP, este último representante da ARENA, partido da ditadura.

É claro que os partidos mais à esquerda, como os comunistas, ainda não puderam voltar à legalidade; seus membros buscavam disputar a política dentro do PMDB.

O Velho Já Morreu e o Novo Não Nasceu

No meio de tudo isso, uma reforma muito grande acontecia: o sindicalismo. Se, no período de Getúlio Vargas, os sindicatos eram aparelhos que estavam vinculados ao governo, mesmo tendo autonomia suficiente para criticá-lo quando necessário, o movimento que a ditadura dos civis-militares fez foi outro. A autonomia dos sindicalistas era mínima e aquele modelo de Getúlio para os sindicatos foi, aos poucos, destruído. É claro que não é possível dizer que os sindicatos eram todos “pelegos”, ou seja, todos ligados à ditadura, mas muitos sim.

O fato é que, a partir de 1978, um novo formato de sindicalismo estava sendo forjado no seio da classe trabalhadora, e era o denominado “novo sindicalismo”. Esse “novo sindicalismo” pretendia ser mais autônomo, desligado completamente do governo, sem medidas paternalistas e assistencialistas, e estava voltado para a causa do proletariado, do operariado. Uma das principais figuras desse modelo de novo sindicalismo foi Luís Inácio da Silva, o Lula.

O estopim desse movimento surgiu no ABC paulista (região que congrega Santo André, São Bernardo e São Caetano, cidades importantes para a metalurgia), quando, em 1979, o Sindicato dos Metalúrgicos propagou uma grande Greve Geral, mobilizando milhares de trabalhadores e denunciando as inconsistências da ditadura.

Os militares diziam (através de seu ministro civil, Delfim Neto), durante todo o período do milagre econômico, que o preço dos produtos no mercado subia por causa da inflação, que o salário dos trabalhadores não podia subir por causa da inflação e apresentavam números falsos da tal inflação. Mas, no final dos anos de 1970, os números verdadeiros apareceram na mídia e isso insuflou os trabalhadores contra o regime.

É claro que não é possível dizer que o novo sindicalismo acabou com a ditadura, da mesma forma que não é possível dizer que os guerrilheiros acabaram com ela, ou que os artistas o fizeram. A resistência se deu em vários níveis, todos com importância ímpar. Mas os militares tinham muitos trunfos, até em níveis internacionais.

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