Literatura: Maneiras de Usar

A Literatura e a História

Agora, vamos pensar em alguns elementos extremamente importantes para melhor lermos os textos literários. Um desses elementos reside no fato de que a arte da palavra é um produto/ação histórico.

A literatura, bem como as outras artes, não está isolada do tempo-histórico em que é produzida. A obras literárias inevitavelmente vão refletir a sociedade em que o/a autor/a que a produziu está inserido/a. A literatura inevitavelmente vai refletir a visão de mundo do sujeito que escreve! Um autor ou uma autora, assim como nós, é um sujeito histórico, é um sujeito social.

Pensemos na obra “Frankenstein” da escritora inglesa Mary Shelley. O romance de Shelley foi publicado em 1818 e, se olharmos para essa obra buscando alguma marca histórico-social, vamos encontrar muitas. Uma delas é o fato de que os homens e as mulheres daquele período inicial do século XIX estavam impressionados e, talvez, até com medo do poder que a humanidade passava a ter sobre a natureza.

A ciência ia avançada e estava sendo responsável por ações até então inimagináveis. Como essa questão aparece na obra? Ora, temos um médico, Victor Frankenstein, que, dotado de poderosos conhecimentos científicos, decide, ele mesmo, em um laboratório, dar vida a um ser
humano, algo até então inconcebível e só aplicado à natureza ou a alguma espécie de deus. Aí está a metáfora de um mundo em transformação. Aí está a marca da história na obra de arte. Captaram?

A Literatura e o Leitor

Quando pensamos no texto literário, é importante não esquecer de uma figura vital, que dá vida às obras literárias. Quem é? O autor? Não! O leitor!

Na verdade, os dois são extremamente importantes, pois não há obra sem essas duas figuras. Quando pensamos em literatura, precisamos levar em conta a importante relação entre autor e leitor.

Os textos literários não existem sem leitores que possam dar sentido a eles, e aí está o papel do leitor. Veja bem o que nós estamos dizendo (ou escrevendo, né?): o leitor dá sentido à literatura quando a lê.

A gente pode dizer que quando um autor termina o seu texto, ele, o autor, morre, porque cada leitor vai ler o texto literário a partir de suas experiências de vida, a partir de suas experiências de leitura, e vai dar diferente sentidos àquilo que leu. Um poema, um romance, um conto nunca tem uma verdade única, uma única possibilidade de interpretação. As possibilidades são várias! Isso, no entanto, não quer dizer que a gente possa interpretar qualquer coisa daquilo que lê, mas isso nos diz que podemos ter pluri-interpretações.

A multiplicidade de sentidos é o que interessa à Literatura, e não a imposição de um sentido, de uma verdade que a obra supostamente apresenta. Se observamos entrevistas e relatos de escritores e escritoras (romancistas, poetas, contistas, compositores), geralmente observamos em suas falas o prazer que lhes dá ver seus leitores dando novos sentidos àquilo que eles produziram. E é isso que torna o ato de ler literatura tão fantástico! A gente pode se apropriar da literatura. Ler o texto literário através dos nossos olhos, do nosso mundo, das nossas experiências.

► O leitor é, sempre, co-autor de um texto literário!

E, para fechar esse item com chave de ouro, vamos dizer – a partir dessa reflexão final que fizemos – que a literatura é um território de liberdade.

Muitos críticos literários, muitos teóricos e até muitos professores se indispõem com certos textos (orais ou escritos) afirmando que eles não são literatura. No entanto, a nossa querida arte da palavra não é uma essência, não é algo dado a priori, mas sim algo construído a partir de todas essas relações sobre as quais refletimos, em destaque, e para relembrar, a palavra poética, a palavra criadora e a reorganização da realidade. Além disso, se a literatura pressupõe a participação do leitor, o leitor – caso se sinta afetado pelo que lê, caso sinta que o que leu rearranjou sua maneira de ver o mundo – pode muito bem decidir por ele mesmo se um objeto é literário ou não.

Dessa forma, por exemplo, fica menos polêmico ou menos complexo nós debatermos se a arte de muro, as pichações, são ou não são literatura.

O que vocês acham?

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