Literatura Informativa

Contexto: A Invasão

Como estipular quando começou o Brasil? Enquanto unidade (com território definido, (uma) língua oficial, regime político único, instituições, cultura, etc.), não havia Brasil. Mas existiam povos nativos, com suas línguas, culturas diversas, histórias e costumes, quando os portugueses chegaram nessas terras.

Por isso, o nosso país é fruto de uma mistura, mas também é fruto de um holocausto. A existência desse território que outrora era indígena e a que hoje damos um nome, um hino e uma bandeira, é fruto da exploração da terra por Portugal e, depois, fruto da mistura de Portugueses, Índios e Negros Africanos.

Nós, que somos frutos de uma colonização, que existimos hoje, temos de saber que somos filhos da dor, da violência, do saqueamento, da escravidão e da destruição da cultura e do modo de vida de vários povos. Nós somos filhos da barbárie que foi a colonização do Brasil e da América Latina e temos que ter consciência dessa barbárie para sermos capazes de estudar os processos e práticas que a permearam, além de sermos capazes de identificá-la se repetindo, como já ocorreu no século XIX, durante o Neocolonialismo, e como ocorre ainda hoje, de diferentes formas, pelos meios rurais da América Latina, por exemplo, quando governos e empresas entendem as terras de indígenas como uma mercadoria, como um objetivo de investimento.

Manifestações Escritas

Estamos em fins de século XV, início de século XVI, e a região ibérica (Portugal e Espanha) está desenvolvendo fortemente sua tecnologia marítima. Esse desenvolvimento se dá porque tanto Portugal quanto Espanha estão passando por um período de prosperidade econômica. A esses dois elementos se junta a realidade da expansão territorial: lembrem que Portugal e Espanha iniciam a colonização de praticamente toda América Latina nesse período.

► Essa expansão – que pode ser mais justamente chamada de Invasão Territorial – tem motivações mercantilistas. As nações mercantilistas tinham por objetivo o acúmulo de metais preciosos. Quando Portugal chega ao território brasileiro, eles estão essencialmente em busca de ouro e prata.

O contexto histórico das primeiras manifestações escritas de que temos registro neste território (que ainda não é Brasil) se dá a partir dessas motivações. E começa quando 13 caravelas lideradas por Pedro Álvares Cabral chegam nesta terra inicialmente chamada, pelos portugueses, de Monte Pascal.

Logo na chegada dos portugueses no Monte Pascal, um escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral registra o que vê nestas terras. É o início da Literatura Informativa.

O que é Literatura Informativa?

► São textos descritivos que não tinham a intenção de produzir arte. Por exemplo: Crônicas de viagem e relatos.

► Esses textos acabaram virando documentos históricos de viajantes que vieram para essa “nova” terra e levaram informações para a Europa em seus textos.

► É por isso que temos o conceito de Literatura Informativa, pois a literatura produzida na época constitui-se apenas de relatos e observações sobre a terra conquistada. Nesses documentos não há intenção artística, não há objetivo literário, apenas intenção de descrever a terra, seu povo, suas paisagens e sua riqueza.

A Carta de Pero Vaz de Caminha

Nesse sentido – de documento informativo –, a Carta de Pero Vaz de Caminha é um dos documentos mais importantes que temos, pois ela se configura no primeiro registro oficial sobre o espaço territorial do que hoje é o nosso país. Assim, ela não é um objeto de arte, não é literatura, mas é o primeiro documento escrito que temos sobre o Brasil.

Pero Vaz de Caminha – ou Pedro Vaz de Caminha – era companheiro de viagem de Pedro Álvares Cabral e escrivão da frota em 1500. Sua carta era destinada ao Rei D. Manuel I para comunicar-lhe o descobrimento da terra e como aquele território, que inicialmente pensaram ser uma grande ilha, se configurava. A carta é datada de 1o de Maio de 1500 e foi mantida em segredo por dois séculos em Lisboa, até ser publicada no Brasil em 1817. É considerada como Patrimônio da UNESCO dentro do Programa Memória do Mundo, que objetiva preservar documentos de grande valor histórico.

Vamos ler alguns trechos da Carta?

A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhado, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem faze mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço e os dentes é feita de modo de roque de xadrez.

[…]

Esta terra […] de ponta a ponta é toda praia… muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos – terra que nos parecia muito extensa. Até agora não pudemos saber se há outro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos.

Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.

A Carta na íntegra encontra-se disponível em: < http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf > Data de acesso: 20/08/2019

Separamos esse trecho porque ele nos diz muita coisa sobre a perspectiva do homem europeu sobre os índios.

Observem a palavra salvar. O que podemos entender disso? Por que era necessário salvar os índios? Será que a única forma correta de vida é a do homem branco europeu? Será que a única religiosidade possível é a católica? O que vemos transparecer nesse trecho, portanto, é a ideia eurocêntrica, a ideia de superioridade cultural e étnica de achar que a cultura do outro é errada.

Então, além das informações, das descrições que Pero Vaz fez, nós vemos a visão de mundo dele e dos homens daquele período. Nenhum texto é neutro, nenhuma fala é neutra, e nessa carta isso fica claro através do choque com o outro, do eurocentrismo e do ideal salvacionista.

Textos Importantes da Literatura Informativa

► Carta de Pero Vaz de Caminha – Pero Vaz de Caminha (1500)

► Duas Viagens ao Brasil – Hans Staden (1557)

► Viagem à Terra do Brasil – Jean de Léry (1560)

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