Industrialização Brasileira: Seu Início

Produção Industrial

A indústria é o setor que, por meio de equipamento tecnológico, operado por mão de obra especializada, atua na transformação de matérias-primas em produtos industrializados. Na composição de seu valor de mercado – o “preço” do produto final – o tempo e o custo dessa transformação são avaliados (trabalho dos empregados da fábrica, custo das matérias- primas, embalagem, transporte, etc.). A indústria, hoje, é considerada o motor da economia global e as nações mais ricas do planeta concentram as mais importantes empresas industriais.

O Início da Produção Industrial Nacional

Fala-se em industrialização no Brasil a partir do fim do século XIX, período em que o trabalho escravo no país foi abolido e se assiste a um aumento das relações de trabalho assalariadas. Antes disso, havia, no território nacional, no máximo algumas indústrias isoladas (têxtil, alimentar, bebidas, tabagista, etc.), muito artesanato e algum crescimento manufatureiro, mas nunca uma industrialização plena. Isso porque a própria existência da escravidão, que era a base da economia até então, impedia a evolução industrial de várias formas.

Primeiramente, a escravidão dificultava a modernização tecnológica do trabalho (aquisição de máquinas), pois a compra de escravos já era um investimento alto e pago à vista, antes mesmo que eles começassem a trabalhar; além disso, a evolução tecnológica pressupõe uma especialização do trabalhador, e não convinha aos proprietários educar e especializar seus escravos. Em segundo lugar, o trabalhador escravo não constituía um mercado consumidor como os assalariados, que podiam adquirir produtos com seu rendimento. Ele não tinha capital e contava apenas com o que o dono lhe fornecia, o indispensável para sobreviver e trabalhar. E, além disso, os gastos com vigilância – para impedir fugas, reprimir os amotinados ou vigiar a execução correta do trabalho – eram mais elevados na escravidão, o que é mais um elemento para barrar a inovação tecnológica.

A relação de trabalho assalariado apresentou, assim, efeitos opostos à escravidão no que se refere à modernização tecnológica. O trabalhador assalariado não constitui um investimento elevado e nem feito à vista, pois só recebe após começar a trabalhar e aos poucos (de forma mensal ou semanal). Contudo, o assalariado pode receber educação e se especializar, podendo ser contratado nas épocas de expansão da empresa e demitido nas épocas de crise, ao contrário do escravo, que deveria ser mantido mesmo nos períodos em que os negócios fossem mal. Além disso, os salários e a liberdade de comprar o que quiserem (desde que os preços sejam compatíveis com seu orçamento) fazem dos assalariados uma parcela de consumidores de bens industrializados. Eles constituem, portanto, um bom mercado consumidor, uma das condições indispensáveis ao processo de industrialização.

Outro elemento fundamental para a expansão da industrialização brasileira, que se iniciou no fim do século XIX, foi a imigração. Os imigrantes, com destaque para os vindos da Europa, foram os primeiros trabalhadores assalariados do Brasil, os primeiros operários na indústria nascente, e aumentaram o mercado consumidor do país, pois já tinham o hábito de adquirir bens manufaturados nos seus países de origem.

Como a industrialização brasileira foi tardia, pois só começou no momento em que o capitalismo passava da fase competitiva para a monopolista, as máquinas e a tecnologia utilizadas não foram produzidas internamente, mas importadas daqueles países que já as desenvolviam havia mais de um século, notadamente a Inglaterra.

Isso significa que não ocorreu aqui a passagem do artesanato para a manufatura e desta para a indústria, como nos países pioneiros na Revolução Industrial. A atividade industrial começou já em sua forma moderna (para a época), não com as máquinas antiquadas do início da
Revolução Industrial (como a máquina a vapor), mas com máquinas movidas a eletricidade ou a combustão. E os estabelecimentos industriais já surgiram com grande porte para a época (neles trabalhavam dezenas ou centenas de operários) e não na forma de pequenas oficinas. Em grande parte, os pequenos estabelecimentos artesanais ou manufatureiros que existiam antes desse processo acabaram sendo destruídos por ele, vencidos pela concorrência.

Para importar o maquinário, era necessária uma fonte de lucro, um produto de exportação que gerasse rendas para aplicar na atividade industrial. Esse produto existia desde o início do século XIX: o café. A cafeicultura, na época, era a atividade principal da nossa economia e se desenvolvia inicialmente no Vale do Paraíba, ao passo que, posteriormente – final do século XIX e início do século XX – a região conhecida como oeste paulista se tornou o principal centro de produção cafeeira no país. Foi a lavoura cafeeira que originou o capital inicialmente aplicado na indústria.

Mas, para que os fazendeiros ou comerciantes de café resolvessem investir na indústria, deixando de aplicar seus capitais na expansão da lavoura cafeeira – o negócio mais lucrativo da época – eram necessárias algumas condições favoráveis. Essas condições surgiram com as crises nas exportações de café (resultantes, sobretudo, da crise de 29) e com o crescimento do mercado consumidor interno de bens industrializados, inicialmente importados da Europa.

Foi nos momentos de crise – como a Primeira Guerra Mundial (1914- 1918), a crise econômica global de 1929 e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) – que o processo de industrialização do Brasil teve seus períodos de maior surto de crescimento. Nesses momentos, era difícil exportar o café (que deixava de ser um negócio tão atraente) e também importar os bens industrializados, que já eram muito consumidos no país e produzidos, em sua maioria, pelos países envoltos nas crises. Tais fatos tornavam interessante investir capitais na indústria, principalmente na indústria leve, isto é, de bens de consumo duráveis (como a indústria têxtil, a de vestuário, de móveis, gráfica, etc.) e não duráveis (como de bebidas, de alimentos e outras). Essa etapa da industrialização brasileira apoiou-se na substituição de importações, ou seja, produzir, no Brasil, os produtos antes importados.

O governo, na época com Getúlio Vargas, também teve papel importante no início da industrialização do país, pois eliminou os impostos interestaduais, desenvolveu uma rede de transportes que ligava os arquipélagos econômicos regionais (Sudeste, Nordeste e Sul) e apoiou o setor industrial através da elevação das taxas de importação e do investimento em estatais (que atuavam no setor de bens de produção).

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