A Guerra do Iraque

A Guerra do Iraque, sem dúvidas, é um dos mais relevantes acontecimentos do século XXI. De um lado podemos destacar o unilateralismo por parte dos EUA; de outro, é possível mencionar a instalação do caos político e social no Iraque, o que indubitavelmente contribuiu para o florescimento do Estado Islâmico em porções do território iraquiano.

Os EUA, desde o final da Segunda Guerra Mundial, são a principal potência militar do planeta. Com o fim da Guerra Fria, o país se via como detentor de uma superioridade militar sem precedentes, o que o estimulou a ser a “polícia do mundo”, postura evidenciada, por exemplo, nas guerras do Iraque (1991) e da Iugoslávia (1999). O governo George W. Bush passou a implantar uma política externa militarista após os atentados terroristas de 11 de Setembro. Em documento enviado ao Congresso dos EUA em 2002, o presidente Bush propôs aos deputados e senadores uma Nova Estratégia de Segurança Nacional, indispensável na chamada “Guerra ao Terror”.

“Atualmente, os Estados Unidos gozam de uma posição de incomparável força militar e grande influência política e econômica […] Para derrotar essa ameaça [terrorista], temos de fazer uso de cada ferramenta de nosso arsenal […] E a América irá responsabilizar as nações que estiverem comprometidas com o terror, […] porque os aliados do terror são os inimigos da civilização.” (BUSH, 2002/2003)

O contra-ataque dos EUA aconteceu com as invasões do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003), países que, segundo a administração Bush, estavam de alguma forma vinculados aos atentados de 11 de Setembro. As grandes controvérsias da empreitada militar dos EUA no Oriente Médio, porém, residem na invasão do Iraque (2003).

Acusando o Iraque de abrigar terroristas da Al Qaeda e de possuir armas de destruição em massa, os EUA não convenceram os membros do Conselho de Segurança da ONU. Mesmo sem a aprovação do Conselho, o Exército norte-americano invadiu o Iraque com o objetivo de tirar Saddam Hussein do poder e combater o terrorismo. Cresceram, anos mais tarde, questionamentos em relação à veracidade do argumento das armas de destruição em massa. A fraca argumentação e a não aprovação do Conselho de Segurança retiraram a legitimidade em torno da invasão do Iraque, prejudicando internacionalmente a credibilidade dos EUA. Os interesses econômicos, especialmente em relação aos grandes campos de petróleo no Iraque, ajudaram a alimentar as críticas à invasão1; os EUA passaram a ser vistos como um fator de desequilíbrio e incerteza, promovendo conflitos sempre que possível. (TODD, 2003, pp.09).

1 O Oriente Médio possuía, à época, dois terços do petróleo do mundo ao mais baixo custo (BANDEIRA, 2014, pp. 138).

As denúncias de violações de direitos humanos se somam aos poucos êxitos obtidos com o conflito, exemplificados na atual situação de caos econômico, político e social enfrentado pelo Iraque. A pretensão de construir um Estado democrático não foi concretizada, tampouco o desejo de reconstruir a infraestrutura do país. Após a retirada das tropas dos EUA, no final de 2011, grupos radicais passaram a se disseminar no vácuo de poder proveniente da frágil atuação do governo iraquiano. Conforme veremos, esse vácuo de poder proporcionou a expansão do Estado Islâmico em porções do território iraquiano a partir de 2014.

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