A Guerra Civil Síria

A Guerra Civil Síria, que teve início no contexto das revoltas populares da Primavera Árabe, representa uma das principais zonas de disputa geopolítica da atualidade. Em dezembro de 2010, ocorreram as primeiras revoltas na Tunísia, acontecendo, posteriormente, em países como o Egito e a Líbia. Na Síria, as revoltas iniciaram o processo de Guerra Civil. O prolongamento do conflito gerou uma situação de caos humanitário, em parte ilustrado no exponencial número de refugiados provenientes da região. Além disso, o conflito é uma amostra das disputas entre potências estrangeiras no tabuleiro geopolítico regional e internacional.

Em março de 2011, após a prisão de jovens que haviam pichado muros em Deraa, no Sul da Síria, houve uma intensificação dos protestos contra o governo Bashar Al-Assad, cujo presidente é líder do partido Baath. Inicialmente reunindo manifestantes seculares e moderados, a oposição síria rapidamente passou a contar com grupos sectários (jihadistas), majoritariamente formados pelos sunitas, que são a maioria no país. O governo Assad, embora secular, tem orientação alauita, que consiste em uma vertente do xiismo. Nesse sentido, a questão religiosa, apesar de anteriormente não ter sido fonte de conflitos sociais, passou a representar uma questão fundamental na Guerra Civil Síria.

Em junho de 2011, após a deserção de oficiais sunitas do Exército sírio, houve a criação do Exército Livre Sírio. Com a oposição pegando em armas, o conflito começou a se alastrar para as principais cidades do país, como Damasco e Aleppo. Naturalmente, o número de mortos começou a aumentar de forma significativa, ultrapassando os 90 mil já em 2013. Em 2012, a ONU reuniu os membros do Conselho de Segurança para tentar solucionar a situação na Síria, contudo, os EUA não conseguiram chegar a um acordo com a Rússia, tradicional aliada da Síria.

Em agosto de 2013, a comunidade internacional passou a pressionar ainda mais pela saída de Assad, sobretudo após denúncias de que o governo sírio estaria usando armas químicas (gás sarin) para reprimir grupos opositores. Após a intermediação russa, o governo Sírio concordou em retirar seu arsenal de armas químicas do país. A situação de vácuo de poder e de caos social, combinada ao fortalecimento da oposição radical sunita, proporcionou o surgimento do Estado Islâmico (EI) no ano de 2014. Desse modo, o EI deixou de representar um elemento da oposição a Assad, passando a controlar territórios estratégicos do Iraque e da Síria e a defender a formação de um “Califado”.

A expansão do EI trouxe muitas dúvidas a respeito de quem era a oposição na Síria. Isto é, os rebeldes sírios eram manifestantes seculares lutando por liberdade e democracia, ou eram grupos jihadistas como o EI e a Frente Al-Nursa? Mais grave ainda, estariam os EUA, a UE e países como a Arábia Saudita e a Turquia fornecendo armas, treinamento e recursos financeiros – direta e indiretamente – para grupos terroristas?

A intervenção da Rússia começou a ser mais ativa e o governo sírio passou a obter vitórias importantes contra os rebeldes a partir de 2015. As potências ocidentais passaram a ser mais cautelosas no financiamento a grupos opositores a Assad, apesar de continuarem defendendo a saída do presidente sírio. Com a expansão do EI no Iraque e na Síria e após a realização de atentados terrorista na França e na Bélgica, as potências ocidentais intensificaram a realização de bombardeios aéreos na região com o objetivo de enfraquecer o EI. Apesar de unidos pelo combate ao EI, os governos da Rússia e do Irã e as potências ocidentais ainda divergem em relação ao conflito sírio, principalmente na questão de manutenção de Assad no governo.

Atualmente, a Guerra Civil encontra-se em um grande impasse. A Rússia segue sendo o principal aliado de Assad, fornecendo armas, dinheiro e toda a sua estrutura militar. O Irã, que é um país de orientação xiita, também segue apoiando o governo Assad. As potências ocidentais e as monarquias do Golfo Pérsico – sobretudo a Arábia Saudita – continuam defendendo a queda de Assad e, em maior ou menor grau, continuam apoiando os rebeldes sírios. Como saldo, o conflito já deixou mais de 400 mil mortos e forçou a saída de aproximadamente 4,5 milhões de sírios. O conflito atualmente encontra-se atravessado por uma série de interesses internos e externos, como é o caso das potências estrangeiras (EUA, Rússia, China, França, Alemanha), das potências regionais (Irã, Arábia Saudita e Turquia), bem como dos atores locais (Estado Islâmico, rebeldes sírios e curdos). Essa complexa rede de interesses contribui para o alastramento do conflito e para a intensificação da crise humanitária na região, tendo na crise dos refugiados a sua faceta mais evidente.

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