As eleições de 1955 confirmaram a vitória para Juscelino Kubitschek (PSD-MG) e João Goulart (PTB-RS). A curta margem de votos de JK contra Juarez Távora, da UDN, alimentou o argumento de que o candidato do PSD não representava a vontade da maioria da população. Além disso, a UDN afirmava que os candidatos vitoriosos haviam recebido apoio do comunismo internacional. A experiência democrática brasileira conhecia mais um capítulo de instabilidade política.
Golpe Preventivo
Café Filho, partidário do golpe e interinamente presidente da República, sofreu um ataque cardíaco que o obrigou a se licenciar do cargo. Assumiu, então, o presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz, também partidário do veto à posse de Juscelino e Goulart. No entanto, o general Henrique Lott, de perfil legalista, passou a mobilizar o Exército para afastar Carlos Luz da presidência da Câmara e, com isso, garantir a posse de Juscelino. Resumindo, Carlos Luz foi deposto em 11 de novembro de 1955, deixando em seu lugar Nereu Ramos, presidente do Senado. Dias depois, Café Filho, aparentemente recuperado, tentou voltar à presidência da República. O Congresso, no entanto, impediu o seu retorno, garantindo Nereu Ramos como presidente. Juscelino e Goulart foram empossados como presidente e vice-presidente, respectivamente, em 31 de janeiro de 1956.
O Plano de Metas
Em sua campanha eleitoral, Juscelino Kubitschek prometeu desenvolver o Brasil 50 anos em 5. Conforme veremos, o nacional desenvolvimentismo possui elementos que ora o aproximam do nacionalismo de Getúlio, ora o afastam. O governo lançou mão de um plano nacional de desenvolvimento (Plano de Metas), compreendendo 31 objetivos divididos em seis grandes áreas: 1) energia; 2) transportes; 3) alimentação; 4) indústria de base; 5) educação; e 6) a construção de Brasília. Observem, abaixo, um esquema que elucida alguns pontos importantes sobre o Plano de Metas:

Nacional-Desenvolvimentismo
O nacional desenvolvimentismo defendia uma atuação direta do Estado na economia, sobretudo na indústria e no setor de infraestrutura. Contudo, os desenvolvimentistas assumiam a necessidade de atrair capitais estrangeiros. Nesse sentido, vocês precisam saber que, a partir do governo JK, a economia brasileira passou por um processo de internacionalização. Como contraponto aos desenvolvimentistas, os nacionalistas, apesar de reconhecerem que o projeto desenvolvimentista de JK tinha um importante componente modernizador, questionavam a desnacionalização de setores da economia brasileira.
Indústria Automobilística
O governo JK incentivou a produção de automóveis e caminhões no Brasil, principalmente através do favorecimento de capitais privados e estrangeiros. Entre as empresas multinacionais do ramo automobilístico que se instalaram no Brasil, é possível citar a Ford, a Volkswagen e a General Motors (GM). Essas empresas, com a Willys Overland, foram responsáveis por quase 80% dos 133 mil veículos produzidos no país em 1960 (FAUSTO, 2015, p.236). É importante salientar que a grande maioria das peças utilizadas na fabricação dos veículos era produzida no Brasil, o que, sem dúvidas, contribuiu para o processo de industrialização do país.
Setor Energético
Nesse setor, o governo JK foi responsável pela construção de duas importantes usinas hidrelétricas, ambas localizadas em Minas Gerais: a de Furnas (no rio Grande) e a de Três Marias (no rio São Francisco). Por sua vez, a produção de petróleo cresceu em 150% durante o governo JK (COTRIM, 2012, p.675). Para vocês terem uma noção, o valor da produção industrial no setor de energia elétrica e comunicações cresceu 380% entre 1955 e 1961 (FAUSTO, 2015, p.236).
Transportes
No setor de transportes, o governo Juscelino priorizou a construção de rodovias. Como complemento à introdução da indústria automobilística, foram construídos quase 20.000 km de rodovias, com destaque para a rodovia ligando Belém e Brasília.
Custos Econômicos e Sociais
O Plano de Metas deixou como herança alguns custos econômicos e sociais para o país. De um lado, os empréstimos obtidos no exterior para a realização das obras de infraestrutura aumentaram a dívida externa brasileira. Por outro lado, os gastos governamentais com a construção de Brasília proporcionaram um aumento nos índices de inflação, que chegaram ao patamar de 39,5% em 1959 (FAUSTO, 2015, p.236). Outro aspecto negativo que se desdobrou do programa desenvolvimentista de JK foi o incremento do êxodo rural. O desenvolvimento industrial na região Sudeste atraía para os centros urbanos milhões de brasileiros do campo, que encontravam nas cidades a falta de estrutura urbana, os altos custos de vida e a miséria1. O governo JK, na tentativa de corrigir o problema do êxodo rural e da miséria no interior nordestino, criou a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em 1959.
1 Apenas para ilustrar, quase metade da população brasileira, aproximadamente 45%, já vivia em cidades no ano de 1956 (COTRIM, Gilberto. História Global. Brasil e Geral. Editora Saraiva, São Paulo, 2012, pp. 676).
Os “Anos Dourados”
O governo JK é constantemente associado a um momento de prosperidade econômica e de efervescência cultural. O esquema abaixo busca ilustrar um pouco desse momento:

Brasília
A construção de Brasília simbolizaria o progresso promovido pelo governo JK. Projetada pelo urbanista Lúcio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer, a nova capital mostraria ao mundo um país moderno e sofisticado. Além disso, a construção de Brasília auxiliaria a integração de diferentes regiões do Brasil. Por fim, é preciso ter consciência da existência dos candangos, que eram os trabalhadores que vinham, sobretudo, do Nordeste. Graças aos esforços dos candangos, a nova capital do país foi entregue ainda no governo JK, em 21 de abril de 1960.
Efervescência Cultural
A produção cultural do período também contribuiu para a sensação de prosperidade associada aos “Anos Dourados”. A emergência da Bossa Nova, por exemplo, representa uma face interessante desse período:
“A Bossa Nova era um modo de dizer o que o país tinha de melhor e a confirmação de sua visibilidade: um Brasil moderno, cosmopolita, sofisticado, belo, livre. Ela forneceu aos brasileiros a senha para acelerar o tempo e criar, em cinco anos, algo novo capaz de vencer o subdesenvolvimento – ao menos no campo da cultura.” (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p.422)
Em relação a outros campos da cultura, é possível dizer que a televisão começava a dar os seus primeiros passos. Contudo, era o rádio – com seus programas de auditório, preces, novelas, noticiários e programas humorísticos – o veículo de comunicação com maior alcance popular. No cinema, é possível destacar a realização das chamadas “chanchadas”, que eram filmes com conteúdo popular e enredo humorístico. Com o filme “Rio: 40 graus”, o Cinema Novo também dava seus primeiros passos. Ademais, é possível mencionar o aparecimento de espetáculos dedicados à realização de sátiras sobre aspectos da vida política ou social, o chamado “teatro de revista”. Na música, seria possível citar, além da Bossa Nova, gêneros populares como a marchinha, o samba-canção, o frevo e o bailão. A vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo (1958) também reforçou o sentimento de otimismo do período.