Vocês certamente já ouviram falar sobre gêneros literários, não?
A questão dos gêneros é bem simples. O gênero refere-se a uma tipologia do fazer literário. O gênero é um padrão de composição, um padrão dentro do qual, ou a partir do qual, irão ser produzidos os textos literários.
Essa definição de gênero começa a ser pensada lá na Antiguidade Clássica com o filósofo grego Aristóteles. Aristóteles vai definir dois gêneros: o dramático e o épico.
Somente séculos depois, no período do Renascimento, que outro gênero vai ser pensado: o gênero lírico. Então, essa famosa tríade de gêneros literários, o dramático, o épico e o lírico só se completa mais tarde, na chamada Modernidade. É claro que esses três gêneros não são estanques, eles podem se misturar! As barreiras podem ser rompidas e, esses padrões, recriados. Lembrem-se sempre de que a literatura é o território da liberdade!
No entanto, para facilitar, vamos entender separadamente o que representam cada um desses três gêneros?
Épico
Existem duas palavras-chave que podem ajudar vocês a compreender o que caracteriza um texto literário pertencente ao gênero épico. Essas duas palavras são: versificação e herói.
O gênero épico surge da necessidade de contar histórias, necessidade que observamos em todas as culturas, sejam elas possuidoras de escrita ou não. As histórias que fizeram parte do chamado gênero épico eram, inicialmente, narrativas orais, em um momento em que não havia o código escrito. Essas narrativas, lendas e mitos eram cantados pelos chamados aedos. Quando passadas para a forma escrita, as histórias eram vertidas para o papel na forma de versos e esses versos eram feitos de forma muito rebuscada, muito formal e solene. Então, daí concluímos que o gênero épico vai aparecer para nós em forma de versos, ok?
Só que esses versos não contavam qualquer história ou não contavam a história de qualquer um, mas sim narravam os feitos de um herói, contavam o percurso de um grande homem. Vamos pensar no Aquiles dentro da Ilíada de Homero, que é, por sinal, um exemplo de gênero épico. Também conhecido por epopeia.
É importante destacar que na epopeia temos dois cenários: o cenário dos homens mortais e o cenário dos deuses. Esses dois níveis aparecem juntos, amalgamados. O herói do gênero épico é aquele que quer se diferenciar do resto dos homens e se aproximar dos deuses. Ele busca a honra e a vitória e quer que sua história, sua vida, sejam contadas por gerações futuras. O herói épico arrisca a sua vida pelo bem de uma comunidade, de um grupo, e, por isso, ele é herói.
Dramático
No gênero dramático, nós não temos a preocupação de narrar, com distanciamento, histórias de grandes feitos heróicos. O que teremos é uma preocupação com a ação. As histórias desse gênero passam a ser encenadas por atores. Aliás, elas são escritas para serem vistas e ouvidas. Em suma, o gênero dramático é feito para ser encenado! Nasce, na grécia antiga, o teatro!
O gênero dramático é um gênero que pode ter sempre como matéria-prima um herói, uma lenda heróica, mas agora há uma diferença importante: o herói não é só aquele que se supera, que está além do homem comum, o herói também erra, o herói também sofre, o herói também morre.
O sofrimento e o erro – dentro do gênero dramático – não são afastados da vida e, por isso, são trazidos para os palcos. Daí vai surgir a expressão tragédia grega. A tragédia é algo que acontece com um herói porque ele cometeu um erro. O gênero dramático se fundamenta nesse erro, nessa humanização do herói.
Basicamente, temos aqui o início do teatro. Até onde sabemos, no Ocidente, uma peça teatral foi encenada pela primeira vez em 534 a.C. O teatro vive até os dias de hoje, não necessariamente na forma de tragédia. Temos diversas manifestações teatrais, diversas manifestações do gênero dramático. Uma tragédia grega muito famosa – e de leitura altamente recomendável – é Édipo Rei de Sófocles.
Lírico
Se a epopeia e a tragédia registravam as ações de um herói, no primeiro caso, narrando ações gloriosas e, no segundo caso, seus erros, esse terceiro gênero vai ter um comportamento diferente. O gênero lírico não fala dos homens e das mulheres de forma exteriorizada, como se uma câmera registrasse todas as ações.
A lírica vai instaurar a subjetividade, ou seja, o interior do sujeito, Algo que não temos presente nos dois gêneros anteriores. Esse gênero vai trazer pro jogo da literatura a expressão de um eu interior.
A lírica tem como uma de suas principais marcas ser escrita em verso! Vamos ter, na lírica, a presença da versificação, do ritmo, do metro e da rima, elementos que até hoje são parte das canções, por exemplo, e das poesias que lemos nos livros, nos muros e que rabiscamos, às vezes, em papéis soltos quando ninguém está olhando.