Fim de Uma Era Vargas

A partir de 1945, o Brasil não foi mais governado por Vargas. Sua participação política na presidência só voltaria a acontecer em 1950. Mas, nessa época, Vargas precisaria de um partido político para disputar as novas eleições que aconteceriam. Por isso, o recente PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) foi fundamental. O programa do partido era o mesmo do movimento trabalhista organizado por Vargas desde seus últimos anos como presidente.

Depois de uma campanha esmagadora, Vargas se elege com uma grande diferença de votos. Entretanto, havia uma oposição que desconfiava de Getúlio, dizendo que ele disputava as eleições apenas para voltar ao poder e deflagrar um novo golpe. Uma dessas figuras era Carlos Lacerda, um jornalista que aparecia diariamente na televisão para desmoralizar Getúlio. É dele a famosa frase:

“Getúlio não pode se candidatar. Se o fizer, não pode vencer. Se vencer, não pode assumir. Se assumir, não pode governar”.

Mas Getúlio venceu e seu segundo governo, agora democrático e dentro da nova Constituição, assinada em 1946, foi muito produtivo. Foram criadas diferentes empresas nacionais, setores desenvolvimentistas, etc. O que não se esperava era sua interrupção precoce. Em agosto de 1954, o governo Vargas atravessava uma forte crise política e, na noite do dia 24, foi encurralado pelo Exército e forçado a renunciar. Vargas não renunciou; trancou-se em seu quarto no palácio do Catete e tirou a própria vida com a bala de um revólver Colt, calibre 32.

Assim se encerrava o período brasileiro comandado por Getúlio Vargas, depois de 15 anos ininterruptos no poder, 5 anos nas sombras e mais 4 no governo democrático.

Contudo, a morte de Getúlio Vargas não significou o fim da Era Vargas. Digo isto porque todas as ações de Vargas no governo repercutiram, de alguma forma, no Brasil que ficou depois de sua morte. O modelo oficial de sindicatos, representações políticas e jurídicas dos trabalhadores, vinculados ao governo, perdurou até o final dos anos de 1970, com aquilo que ficou conhecido como “novo sindicalismo”. O modelo desenvolvimentista brasileiro, focado na produção em massa, o nacionalismo, e a ideia de industrialização do país só foram superados com a emergência de governos neoliberais na década de 1990. De fato, uma das primeiras falas de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), ao assumir a presidência da República, foi: “No meu governo, terá fim a Era Vargas”.

Todas essas discussões que realizamos sobre a permanência de elementos do governo Vargas na política e na economia brasileira são resumidas em uma palavra: herança. É comum, na política, se dizer que João Goulart, Brizola, e tantos outros políticos são herdeiros de Getúlio Vargas. São herdeiros políticos, herdaram a sua forma de fazer política, pautados pelo trabalhismo, pela lógica da conciliação de classes, etc.

Todavia, a maior herança de Vargas, que vai de encontro a ideia de que sua Era acabou no Governo de Fernando Henrique Cardoso, é a Consolidação das Leis Trabalhistas, um documento que foi assinado em 1943 e que ainda tem validade, e mais, ainda tem legitimidade. Permanece no imaginário popular uma concepção de que a CLT é a única forma de proteger os direitos trabalhistas e que ela é a salvação dos trabalhadores. Independente de isto estar correto ou não, o fato é que a imagem de Vargas é tão forte e sua marca foi tão incrustada na sociedade brasileira, que até hoje existem governantes que tentam romper com sua Era.

Para saber mais, veja também: