Feminismo

Outro movimento social importante nascido no século XIX é o feminismo. Em contraste com o movimento sindical, no entanto, o feminismo combate um traço da vida social muito mais antigo que a revolução industrial e o modo de produção capitalista e que perpassa, por isso mesmo, o modo de vida de muitas sociedades não ocidentais e/ou tradicionais. Neste sentido, sua luta se dirige contra a desigualdade entre homens e mulheres e a restrição destas últimas a um papel doméstico e estritamente reprodutivo, posição historicamente defendida pelas ideologias patriarcais ou do patriarcado.

Inicialmente focado sobre a questão da igualdade política entre homens e mulheres e o direito feminino ao voto, ou sufrágio universal, o feminismo transformou-se profundamente ao longo do tempo, de maneira que costumamos identificar três “ondas” ou estágios em seu desenvolvimento histórico:

Primeira onda (século XIX – década de 1960): Neste primeiro momento, a pauta do movimento das mulheres centrava-se sobre a igualdade política e jurídica entre homens e mulheres, enfatizando o sufrágio universal, a participação política e o direito à propriedade privada. Lutava-se pelo direito das mulheres votarem e serem votadas, além de não serem tuteladas pelos homens em termos de seu acesso e usufruto a bens herdados e adquiridos.

Segunda onda (década de 1960 – década de 1980): Caracteriza-se pela chamada revolução sexual e pela ampliação da luta pelos direitos de facto das mulheres, tematizando questões como os direitos reprodutivos – o que coincide com o advento da pílula anticoncepcional –, a questão do aborto e do divórcio, assim como a visibilização da violência doméstica e conjugal. Da mesma maneira, as feministas da segunda onda ressaltavam o papel da mulher no mercado de trabalho e o combate às desigualdades salariais e corporativas entre homens e mulheres. Outro aspecto importante desta geração foi o combate ideológico ao machismo na indústria cultural, criticando os estereótipos femininos presentes no cinema, televisão e publicidade em geral. Na atmosfera contracultural dos anos 1960, ligava-se também ao movimento hippie e pacifista.

Terceira onda (década de 1980 – atual): esta geração do feminismo se caracteriza pela ideia de desconstrução, derivada do movimento filosófico conhecido como pós-estruturalismo. Na esteira da segunda onda, a terceira onda entende que o gênero é uma construção social, isto é, uma projeção de normas e valores sobre a dimensão naturalmente dada do sexo biológico. Todavia, discordam quanto ao caráter binário desta construção, a que acusam a segunda geração de reproduzir ainda que involuntariamente. Neste sentido, para além da dicotomia masculino/feminino, a terceira onda entende que o gênero é uma construção múltipla, comportando múltiplas possibilidades em um espectro quase infinitesimal. A pauta do direito e do respeito à diferença ganha destaque junto à luta mais tradicional pela igualdade entre os gêneros, o que aproxima o feminismo contemporâneo do movimento LGBTT (lésbicas, gays, travestis e transexuais) e de outras pautas sociais diferencialistas, como a questão racial.

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