A partir de agora, vocês terão contato com aspectos relacionados ao período conhecido como détente, que significa “distensão” ou, se preferirem, redução das tensões entre as superpotências da Guerra Fria. Contudo, a despeito dessa “distensão” entre as superpotências, a década de 1970 é notavelmente marcada pela ativa interferência dos EUA em seu “quintal geopolítico”, isto é, a América Latina.
► ANTECEDENTES – Ambas as superpotências, bem como seus respectivos blocos, passaram por períodos de turbulência durante os anos 1960. No campo socialista, Kruschev, após sucessivos reveses diplomáticos, foi deposto, assumindo em seu lugar Leonid Brejnev – reconhecidamente ligado a facção “linha-dura” do Partido Comunista. A repressão ao movimento conhecido como “Primavera de Praga” (1968) e o aprofundamento do rompimento sino-soviético demonstram um pouco das ações de Brejnev no plano internacional. No bloco capitalista, cresciam sobretudo nos EUA – os movimentos pelos direitos civis e contra a Guerra do Vietnã, enquanto que na Europa floresciam movimentos estudantis que contestavam valores apreciados pelo bloco capitalista, com destaque para os movimentos de maio de 1968 na França.
► DÉTENTE – As eleições de 1968 colocaram o republicano Richard Nixon à frente da presidência dos EUA. A partir de então, Nixon passou a desenvolver uma abordagem mais diplomática com a URSS e o bloco socialista. Em 1971, por exemplo, os EUA se aproximam da China de Mao, principalmente ao reconhecerem a RPC como a legítima portadora do assento permanente no Conselho de Segurança da ONU1. Em 1974, os EUA e a URSS assinam o acordo SALT I, que possuía no controle de armamentos estratégicos o seu principal objetivo. Após liderar essa política de “distensão” em parceria com o seu conselheiro Henry Kissinger, Nixon foi obrigado a renunciar após a divulgação do escândalo de Watergate2.
1 Após a Revolução Chinesa (1949), os EUA e a ONU deliberaram que a República da China (Taiwan) exerceria a condição de membro permanente do Conselho de Segurança. Em 1971, depois da aproximação sino-americana, a República Popular da China retomou o assento permanente no Conselho de Segurança.
2 O escândalo de Watergate diz respeito às divulgações de que Nixon estaria espionando rivais políticos do Partido Democrata. Na iminência de um impeachment, Nixon renunciou e, em seu lugar, assumiu o vice-presidente Gerald Ford.
► GUERRA DO YOM KIPPUR – O conflito árabe-israelense, que representa uma constante no período da Guerra Fria, teve na Guerra do Yom Kippur um desdobramento mais amplo. Após a derrota dos países árabes contra Israel, os mesmos se cartelizaram e formaram a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP). A OPEP, em retaliação, aumentou substancialmente os preços do barril do petróleo, tendo implicações negativas para grande parte do bloco capitalista. Assim, a crise econômica, que já dava indícios antes da “crise do petróleo”, passou por um processo de intensificação3.
3 A partir do final dos anos 1960 e início da década de 1970, ocorre o que muitos especialistas chamam de “crise do modelo fordista-keynesiano”. Por inúmeras razões, os “anos dourados” do capitalismo nas décadas de 1950 e 1960 chegaram ao seu limite na década de 1970.
► JIMMY CARTER – Candidato do grupo político oposto a Nixon (Partido Democrata), Carter foi eleito em 1976 com um discurso fortemente ancorado nos direitos humanos. Nesse sentido, Carter conseguiu mediar com sucesso as negociações entre Israel e Egito em Camp David (1978), assim como deu continuidade à política de distensão em relação a URSS, exemplificado na assinatura do SALT II, que também tinha o objetivo de controlar os armamentos estratégicos das superpotências.