Pessoal, vimos até agora os principais aspectos a respeito da globalização, assim como os elementos que explicam a formação dos blocos econômicos regionais. No entanto, a conjuntura de empolgação e entusiasmo com a globalização parece estar se dissipando. É preciso estar atento às tendências do mundo contemporâneo. Para ajudar a compreender isso, vamos expor alguns pontos que se relacionam ao clima de desencantamento que parece estar pairando sobre os Estados Unidos e a Europa.
A Eleição de Donald Trump
A eleição de Donald Trump, candidato do partido republicano nas eleições de 2016, apresenta importantes indicativos a respeito da desilusão com o processo de globalização. Com a abrangente proposta de tornar a “América Grande Novamente”, Trump não poupou críticas ao encolhimento da classe média estadunidense, em parte causado pela transferência de indústrias para países como o México e a China.
Além disso, os imigrantes ilegais também foram culpados pelo problema do desemprego e dos baixos salários no país. Trump também questionou as propostas de criação da “Parceria Transpacífica” (TPP), que era tida por especialistas brasileiros e estrangeiros como o “maior acordo comercial” visto até então. Acusando o México de roubar as indústrias do país e os mexicanos de tirarem os empregos dos cidadãos dos EUA, Trump ainda sinalizou que construiria um muro entre os dois países.
Considerando todo esse contexto, seria possível a afirmar que, atualmente, o governo dos EUA está desiludido com os efeitos da globalização econômica? Em resumo, as estruturas do mundo contemporâneo se encontram em transformação, cabendo a nós não a proposição de verdades absolutas, mas a reflexão sobre as possibilidades de futuro que estão emergindo atualmente.
O Brexit e a Ascensão dos Nacionalismos na Europa
Os riscos de desintegração do projeto europeu se manifestam de modo mais concreto. O resultado do plebiscito realizado no Reino Unido em 2016 causou surpresa e preocupação entre as principais lideranças europeias. Antes disso, a crise econômica nos PIIGS – Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha – já suscitava questionamentos a respeito da sustentabilidade da União Europeia.
Mesmo sem fazer parte da Zona do Euro (países que adotam o Euro como moeda oficial; o Banco Central Europeu, com sede em Frankfurt, representa a mais alta autoridade monetária do bloco) e da Área Schengen (países que assinaram o Acordo de Schengen, que estabelece a abertura da fronteira e a livre circulação de pessoas entre eles), os partidários do BREXIT souberam explorar a crise econômica europeia e a redução da qualidade de vida dos britânicos, de modo a culpar tanto a “burocracia de Bruxelas” quanto os imigrantes – europeus ou não – pela situação do país. De modo similar ao que aconteceu na eleição de Trump, a campanha pelo BREXIT também não poupou críticas ao establishment político do Reino Unido – lembrando que tanto o Partido Trabalhista quanto o Partido Conservador foram favoráveis à permanência do Reino Unido na União Europeia.
Mesmo que a saída ainda não esteja oficializada, os impactos já começam a ser sentidos. Como exemplo é possível citar a ascensão política de Marine Le Pen (líder política da Frente Nacional) na França. Contrária à integração europeia, Le Pen, que atualmente é deputada na França, não esconde o desejo de retirar a França da UE. Em suma, estaria a União Europeia passando por um processo de desintegração? Mais ainda, seria o fortalecimento dos movimentos de cunho nacionalista e de extrema-direita a principal razão para a desintegração da UE?