Deontologia

Ética Kantiana, ou Deontologismo: Kant responderá a primeira pergunta da seguinte maneira: o bem último é a vontade boa, pois a vontade boa é a única coisa boa em si mesma. Todas as outras coisas, segundo Kant, podem ser usadas para o mal. Até mesmo as chamadas “virtudes do espírito”, como a inteligência, podem ser usadas para o mal, pois se pode usar a inteligência para enganar e tirar proveito de outra pessoa.

Portanto, se o bem último é a vontade boa, o critério para avaliar as ações corretas e incorretas precisa ser a intenção de quem faz a ação. Mas qual é a intenção que guia a pessoa de boa vontade? Segundo Kant, a pessoa de boa vontade tem a intenção geral de cumprir o seu dever. Portanto, a intenção que torna a ação correta é a de agir por dever, e não em mera conformidade com o dever. Um exemplo disso é que, para Kant, um político que meramente declare corretamente seus bens e posses por medo da punição que receberia se não o fizesse não age de maneira correta. Sua ação é moralmente condenável, ainda que as consequências dela sejam agradáveis. Um exemplo de ação moralmente correta seria um político que declarasse corretamente seus bens e posses porque sabe que é seu dever fazer isso.

Se a ação correta é agir de acordo com o dever, a teoria ética de Kant se depara com uma nova pergunta: “como podemos saber qual é o nosso dever em cada situação que vivenciamos?”. Kant responde essa pergunta postulando o Imperativo Categórico, uma regra geral da razão que impõe o que é o correto a ser feito. O Imperativo Categórico tem duas formulações principais que todas as pessoas podem aplicar em suas vivências para descobrirem como agir corretamente:

► “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”;

► “Age de tal maneira que uses a tua humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio”.

Um exemplo de aplicação da primeira regra é o seguinte: imagine que sua mãe lhe deu uma determinada quantidade de dinheiro para comprar um lanche no seu recreio da escola. Porém, você gastou menos do que o valor que recebeu e levou o troco para sua casa. Você pode contar a verdade e devolver o troco ou mentir e embolsar o valor quando sua mãe lhe perguntar “sobrou algum troco do dinheiro que dei para você?”. Você até pode ter motivos pessoais para querer guardar o troco, mas, se quiser agir de maneira correta, você deve observar a primeira regra do Imperativo Categórico que diz que você deve agir sempre de acordo com uma máxima que você deve querer que possa ser seguida por todos, por ser uma lei universal. Assim, se mentisse, você concordaria que todas as pessoas poderiam seguir essa máxima. Porém, você não pode desejar que todos sigam essa máxima, pois a vida em uma sociedade na qual a mentira é aceitável é uma vida impossível, já que não se pode confiar em ninguém. Portanto, a ação correta é falar a verdade, pois a generalização universal dessa máxima é desejável.

Um exemplo de aplicação da segunda regra é que nunca devemos usar as outras pessoas como meios para alcançar nossos fins. Apontar uma arma para alguém e obrigar o sujeito a entregar suas coisas é moralmente condenável, pois quem assalta está utilizando um outro como meio para obter dinheiro e bens materiais. Assim, a autonomia do sujeito é violada e ele é obrigado a fazer algo contra a sua vontade.

Uma objeção ao Imperativo Categórico: imagine que você está em sua casa e um assassino bate em sua porta e lhe pergunta se você sabe onde está o seu vizinho. Você sabe que seu vizinho foi até a lavanderia do seu bairro, mas você deve contar isso ao assassino? Qual a sua obrigação moral nessa situação delicada? Falar a verdade ou mentir para salvar a vida de seu vizinho?

Nosso instinto nos diz para mentir, certo? Mas o que Kant diria sobre isso? Como ele aplicaria o Imperativo Categórico nessa situação? Para Kant, aplicando o Imperativo Categórico, nosso único dever moral nessa situação é dizer a verdade. Porém, isso não parece estar correto, pois uma vida parece ser muito mais valiosa do que uma mentira dita para salvá-la, e essa parece ser uma objeção ao Imperativo Categórico. Kant, entretanto, responderá que a responsabilidade sobre a morte ou não do seu vizinho recairá somente sobre o assassino. A responsabilidade sobre a morte de um inocente recairá somente sobre o seu assassino, e não sobre quem cumpre com seus deveres éticos.

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