O Declínio da URSS e o Fim da Guerra Fria

Pessoal, a partir de agora vocês vão entender como e porque a URSS entrou em um processo de declínio a partir do final da década de 1970. Nesse sentido, mostraremos a vocês o desgaste político e econômico do “socialismo real” empregado na URSS. A intenção aqui é ilustrar para vocês as razões internas e externas que explicam o declínio da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

DECLÍNIO POLÍTICO – Primeiramente, vamos mostrar a vocês o declínio da URSS sob a perspectiva política. Internamente, o regime de partido único e de excessiva centralização burocrática já mostrava sinais de amplo desgaste, considerando, sobretudo, as aspirações por maior liberdade de expressão e manifestação. Externamente, a URSS perdia cada vez mais apoio: na Europa Ocidental, ocorria um processo de afastamento das esquerdas em relação a Moscou e, por outro lado, surgia o fenômeno do “eurocomunismo”; na Europa Oriental, as aspirações por autonomia cresciam e tinham no Sindicato Solidariedade da Polônia a sua mais evidente faceta; na Ásia Central, região que estava sob a influência soviética, a URSS se via obrigada a ingressar em um desgastante conflito no Afeganistão. Desse modo, a centralização em torno do sistema de partido único encontrava desgastes internos, ao passo que estes eram acentuados pelas contradições externas.

DECLÍNIO ECONÔMICO – Pessoal, vocês precisam ter em mente que, em fins dos anos 1970 e início dos anos 1980, teve início um processo de reestruturação da economia internacional, que passou, em parte por conta das inovações tecnológicas da 3ª Revolução Industrial, a se tornar cada vez globalizada, dinâmica e, não menos importante, financeirizada. A economia soviética, que ainda arcava com os custos de uma corrida armamentista com os EUA e de uma extensa presença militar no exterior, entrava em um ritmo de estagnação1. Além disso, as exportações industriais da URSS passaram a se tornar cada vez menos relevantes, à mesma proporção em que cresciam as exportações de produtos primários (petróleo e gás natural). Isto quer dizer que, além de não crescer, a economia soviética já não era capaz de produzir produtos com alto valor agregado de forma competitiva, perdendo espaço para os países em estágio avançado de desenvolvimento e para aqueles de industrialização recente – como era o caso dos “Tigres Asiáticos”.

1 A alta despesa destinada às Forças Armadas tinha óbvias implicações para o resto da economia, tais como a escassez de bens de consumo, baixo nível tecnológico das empresas soviéticas – exceto a indústria militar -, inadequações no setor de construção, etc.

GUERRA DO AFEGANISTÃO – O “Vietnã soviético” impôs à URSS uma derrota tão amarga quanto aquela sofrida pelos EUA no sudeste asiático. Em um cenário de estagnação econômica, o Exército foi obrigado a intervir em um conflito que não queria, de fato, ingressar. A emergência dos mujahedins e o financiamento destes por parte de países estrangeiros significaram ao Exército soviético sucessivas derrotas. Sem condições de restabelecer o domínio no Afeganistão, os soviéticos se retiraram do país em 1988, deixando para trás dez anos de conflito e dando um claro indício do esgotamento da URSS.

NOVA ORTODOXIA LIBERAL – A “Nova Ortodoxia Liberal” era representada por Margaret Thatcher, eleita em 1979 como primeira-ministra do Reino Unido, e Ronald Reagan, eleito presidente dos EUA em 1980. Nesse sentido, tanto Reagan quanto Tatcher possuíam um acentuado caráter anticomunista, ao mesmo tempo em que promoviam uma agenda econômica neoliberal. De um lado, Reagan aplicou uma política econômica neoliberal, ao mesmo tempo em que o privilégio de emitir a moeda referência internacional (o dólar) permitiu que os EUA gastassem volumosas somas de dinheiro em sua “Nova Guerra Fria”, abandonando, de fato, a détente. A “Dama de Ferro”, por sua vez, executou uma política econômica austera e liberalizante, calcada na redução de impostos para os mais ricos, privatização de empresas estatais, desregulamentação econômica e liberdade dos fluxos financeiros. Em linhas gerais, a “Nova Ortodoxia Liberal” endureceu o tom nas relações com a URSS e incansavelmente difundiu a “cartilha neoliberal”, que estava em consonância com as transformações estruturais na economia mundial.

AS REFORMAS DE GORBACHEV – Mikhail Gorbachev assumiu o comando da URSS em 1984 em um contexto interno e externo desfavorável. Com o objetivo de reformar o sistema político e modernizar a economia do país, o líder da URSS lançou mão de duas reformas: a Glasnost e a Perestroika. A Glasnost, que em russo significa “transparência”, visava introduzir reformas democráticas na URSS. Ligada à Glasnost, Gorbachev buscou promover reformas econômicas sob o que ficou conhecido como Perestroika, que em russo significa reconstrução. Nesse sentido, a Perestroika tinha como objetivo promover uma abertura da economia soviética, introduzindo mecanismos de mercado em uma economia que, há décadas, era planificada e planejada de forma centralizada.

CHOQUES NA EUROPA ORIENTAL – Pessoal, conforme sinalizado anteriormente, as repúblicas socialistas na Europa Oriental já se encontravam em um processo de distanciamento em relação a URSS. Em 1989, eclodiu na Polônia uma greve geral capitaneada pelo Sindicato Solidariedade e sob a liderança de Lech Walesa. Depois disto, foi a vez da Tchecoslováquia realizar a sua “revolução de veludo”, que, além de introduzir reformas políticas e econômicas, dividiu o território do país em República Tcheca e Eslováquia. A “onda” de choques se alastrava por toda a Europa Oriental, tendo como ponto culminante, também em 1989, a queda do muro de Berlim. Em resumo, a Glasnost, que entre suas medidas instituiu também o multipartidarismo, suscitava o surgimento de partidos políticos que reivindicavam a autonomia de suas províncias.

O FIM DA UNIÃO SOVIÉTICA – Os comunistas ortodoxos do Partido Comunista reagiram às reformas liberalizantes introduzidas por Gorbachev, derrubando-o da presidência em 1991. Dias depois, Gorbachev voltaria ao comando da URSS, em parte por conta da atuação de Boris Yeltsin, que era o presidente da Federação Russa. Os conturbados eventos daquele ano provocaram o aprofundamento dos movimentos por autonomia nas antigas repúblicas soviéticas. Como resultado desse processo, em dezembro de 1991, ocorreu a fragmentação da URSS e a criação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), abrangendo antigas repúblicas da URSS como a Bielorrússia, a Ucrânia e a Armênia. Por fim, Gorbachev, também em dezembro, anunciou a desintegração da URSS, o que acabou por legar à Federação Russa as antigas atribuições da URSS, como é o caso do assento permanente no Conselho de Segurança e a posse do arsenal nuclear. Por fim, agora cabe uma reflexão: com o fim da Guerra Fria, passamos a viver em um mundo “unipolar”? Ou, com as mudanças da globalização econômica, o notável desenvolvimento econômico asiático e a ascensão dos “emergentes”, estamos caminhando para um mundo “multipolar”? Isto é, com o fim da Guerra Fria, fomos para onde? Onde estamos? Qual caminho estamos trilhando? Enfim, a apostila de História Contemporânea pode ajudar um pouco vocês nesse exercício de reflexão!

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