
Disponível em:https://gramaticadaira.com/2013/06/cuti-no-sarau-bem-black.html
Data de acesso: 22/08/2019
Cuti é o pseudônimo de Luiz Silva, que nasceu em São Paulo em 1951. Ele é formado em Letras (Português-Francês) pela USP e é Mestre em Teoria da Literatura e Doutor em Literatura Brasileira pela UNICAMP.
O autor teve um papel muito importante na literatura brasileira na divulgação da experiência do afro-brasileiro na literatura e de narrativas produzidas por negros.
Ele foi um dos fundadores do QUILOMBHOJE LITERATURA, que é uma mídia fundada por um grupo paulistano de escritores, Cuti entre eles, que tem o objetivo de discutir e divulgar a experiência afro-brasileira na literatura, difundir literatura negra e incentivar pesquisas e estudos sobre narrativas negro-brasileiras.
Cuti também foi um dos criadores da série CADERNOS NEGROS, lançada em 1978 com 8 poemas. Desde então, todo ano tem sido publicada uma edição nova dos CADERNOS, trazendo poesias, contos e outras narrativas de autores brasileiros. É o maior veículo que temos no Brasil com o objetivo de dar visibilidade à literatura negra, pois não existem outras antologias publicadas regularmente com literatura afro-brasileira.
Além disso, Cuti é poeta, contista e dramaturgo. Entre o fim da década de 70 e hoje, ele publicou vários livros.
Obras principais:
Poesia: Poemas de Carapinha (1978); Batuque de Tocaia (1982) e Negroesia (2007).
Contos: Contos Crespos (2008)
Teatro: Dois na Noite e outras peças do teatro negro-brasileiro (1991)
Site do Cuti – http://www.cuti.com.br
Site do Quilombhoje: http://www.quilombhoje.com.br
O autor é também ensaísta e é a reflexão de um de seus textos que trazemos para vocês. O ensaio se chama Quem tem medo da palavra negro?
Uma das perguntas em que o ensaio de Cuti se centra é:
“Por que a palavra negro vem sendo banida tanto por racistas quanto por pessoas que advogam as africanidades no Brasil?”
Em muitos contextos e para muitas pessoas, a palavra “negro” passou a não poder ser usada, devendo ser substituída por afro-descendente ou afro-brasileiro.
Para responder a pergunta central, a argumentação do autor é a de que:
► A humanidade nasceu na África, então somos todos afro-descendentes e, ainda, afro-brasileiros somos todos nós, os brasileiros. Para Cuti, a palavra “afro” não representa a pessoa humana que tem o fenótipo pele escura, cabelo crespo, nariz geralmente largo, lábios mais cheios e com uma determinada história no Brasil, um determinado passado escravocrata, uma determinada posição na sociedade. Um “afro” pode ser branco.
► As palavras trazem em si conteúdo, trazem história, e a palavra ‘negro’ traz em si toda a história do racismo no Brasil e em outras regiões do mundo. A palavra ‘negro’ não isenta o racismo, não nos deixa esquecer o racismo. Desde a Antiguidade, em outros idiomas, em outras regiões vêm acumulando história e trazendo um sentido quase sempre negativo; dentre eles, foi utilizada para afirmar que os africanos de pele escura são inferiores aos brancos.
► Grande parte dos movimentos negros usou a palavra negro: FRENTE NEGRA BRASILEIRA, MOVIMENTO NEGRO, MOVIMENTO NEGRITUDE; nos EUA, temos o exemplo do Black Power.
O autor quer criar um jogo duplo com a palavra ‘negro’, usá-la para não esquecermos de suas marcas históricas, de opressão escravista e racismo, mas, ao mesmo tempo, trazer orgulho ao dizer “Eu sou Negro”, transformar em positivo o que era negativo. Em um país que nega o racismo, que quer mascarar sua existência, esta é a importância da palavra negro na perspectiva do autor.
Para Ouvir E Entender “Estrela”
se o papai-noel
não trouxer boneca preta
neste natal
meta-lhe o pé no saco!
CUTI. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007