Na Baixa Idade Média, o clima de insegurança, medo e pessimismo do período veteromedieval é substituído por uma crescente atmosfera de otimismo, cuja base estava nas transformações econômicas e sociais vividas no período: Renascimento Comercial e Urbano, progressiva centralização do poder, redescoberta das obras clássicas da antiguidade greco-romana, expansionismo cruzadista, etc. Através do contato com os Árabes, após as Cruzadas, o pensamento de Aristóteles, profundamente racionalista e empirista (que dá valor à experiência sensorial), foi redescoberto pelo ocidente e provocou enormes mudanças na Filosofia medieval. O homem passa a ser revalorizado pelo fato de ser racional, faculdade entendida, no entanto, ainda como uma graça de Deus. As chamadas “boas obras” do homem e o seu livre-arbítrio conduzem a uma interpretação da salvação calcada na ação humana, e não mais tão exclusivamente na graça de Deus.
O racionalismo aristotélico enseja, na Filosofia e na Teologia, novas sínteses criativas entre razão e fé, como as desenvolvidas por (São) Tomás de Aquino (1225 – 1274) e os chamados filósofos escolásticos. A fundação das universidades configura-se, da mesma forma, como um sintoma da revalorização do conhecimento racional, que engendrou, nos séculos seguintes, o nascimento da ciência moderna. A primeira universidade do Ocidente é fundada em Bologna (Itália), ainda no século XI, seguida por Paris e Oxford (Inglaterra) também neste século, e Cambridge (Inglaterra), Salamanca (Espanha) e Montpellier (França) no século XIII.
Na arquitetura, o estilo predominante é o gótico, mais leve e verticalizado que o românico. A ascensão deste estilo está ligada ao renascimento urbano, uma vez que as grandes catedrais góticas tornaram-se os pontos centrais das crescentes cidades da baixa Idade Média (Notre Dame de Paris e Duomo de Milão, por exemplo). Suas altas torres projetavam-se para o céu, como que metaforizando a busca racional do homem por Deus. Construídas através de novas técnicas, as catedrais medievais possuíam paredes menos grossas e amplos vitrais multicoloridos, que permitiam a iluminação diurna dos ambientes interiores. Tanto o exterior quanto o interior eram trabalhados com minúcias ornamentais: alegorias, gárgulas e rosáceas que contrastavam com o caráter simples e plano das superfícies românicas.
Na música e na literatura, a Baixa Idade Média assiste o interessante fenômeno da vulgarização linguística. Por “vulgarização” não devemos compreender algo no sentido pejorativo, mas o advento das línguas vulgares (idiomas e línguas nacionais) como veículos de transmissão cultural. São escritos, no período, os primeiros poemas épicos nas línguas nacionais, como a Canção de Rolando (Francês), Poema de El Cid (Espanhol) e a Canção dos Nibelungos (Alemão). Tais poesias ainda se encontram repletas de referências laudatórias aos feitos dos nobres, espelho de uma sociedade feudal, viril, guerreira e rude.
A partir do século XII, o trovadorismo inaugura uma nova fase, em que o fazer poético deixa, progressivamente, os temas de cavalaria para inaugurar as temáticas do amor. A galanteria, o refinamento e a beleza feminina passam a ser cantados, em contraste com a temática unicamente religiosa da Alta Idade Média e as elegias épicas guerreiras do período anterior. Com o advento das línguas vulgares como meios expressivos, até mesmo a música e a literatura de orientação religiosa sofrem transformações, como podemos observar nas chamadas Cantigas de Santa Maria, compostas pelo rei Afonso X, o sábio, de Castela, no século XIII.
Nelas, aquele que canta ao divino não é um clérigo – pois é o próprio rei que as compõe – e não canta em latim. Do ponto de vista simbólico, isto pode ser encarado como a legitimação do poder temporal, representado pelos reis, em tratar de assuntos religiosos, representados pelo clero. Igualmente, nas Cantigas ̧ aquele que canta não é mais um homem terrificado frente à onipotência de Deus, mas um sujeito feliz e jubiloso com as graças que este lhe confere.