Para a perspectiva construtivista, as realidades sociais são, ao mesmo tempo, exteriores e interiores ao sujeito. São exteriores na medida em que se referem a dimensões objetivadas do real, como as palavras que utilizamos (e não inventamos toda vez que falamos!), as regras morais que seguimos (às vezes, sem nos darmos conta!) e as instituições às quais pertencemos (e que permanecerão existindo quando sairmos delas!). Por outro lado, são interiores aos sujeitos na medida em que tocam e permeiam nossas preferências estéticas, nossas decisões morais pontuais, nossas avaliações do que é certo e errado, etc.
Se não fossem interiores a nós, as realidades sociais jamais mudariam ao longo do tempo e seríamos como computadores ou zumbis programados pela sociedade. Mas, se também não fossem exteriores a nós, teríamos de convencionar todas as regras e pressupostos pelos quais vivemos a cada nova interação social, o que não só é absurdo como totalmente impossível. Você já imaginou se sua escola tivesse de ser refundada a cada dia letivo? Ou se tivéssemos de combinar o significado de cada letra antes de começar uma conversa por Whatsapp?
Portanto, para que a vida social seja durável e estável, é necessário que incorporemos certas disposições subjetivas (gostos estéticos, valores morais, etc.) através de estruturas objetivadas, como a linguagem, a educação formal, as tecnologias de informação e comunicação, entre outras. Em geral, o que chamamos de senso comum – isto é, as representações mais genéricas e superficiais que uma sociedade tem da realidade, em um nível pré-reflexivo ou teórico – é o resultado mais visível do processo de incorporação das normas, padrões e representações que regem uma sociedade.
Ora, quanto mais reiteramos através de palavras e ações que meninos gostam de azul e meninas gostam de rosa, mais isto ganha concretude e objetividade, por mais arbitrário e convencional que seja em sua origem.
Além disso, mesmo quando falamos da dimensão mais objetiva e exterior possível da nossa experiência mundana, como as leis naturais que regem o movimento dos corpos e suas transformações de estado físico, precisamos passar por um processo de construção social e internalização dos instrumentos legados pela tradição para conhecer e versar sobre esta realidade. Em outros termos, precisamos aprender a manejar os signos convencionais da Matemática, o nome das constantes físicas e elementos químicos, etc.