Bem, pessoal, agora que vimos os principais aspectos econômicos, sociais e políticos relacionados ao processo de globalização, que tal estudarmos um pouco de geopolítica? Vocês terão, a partir de agora, um pouco de contato com o lado violento e truculento das relações internacionais contemporâneas.
Conflito Árabe-Israelense
O conflito árabe-israelense possui suas origens no período posterior à Segunda Guerra Mundial e, desde então, vem marcando o cenário regional e internacional. O conflito ainda representa uma das principais zonas de tensão geopolítica no mundo contemporâneo. Para facilitar o entendimento, vamos apresentar os antecedentes e os mais relevantes eventos deste conflito.
Antecedentes
Em primeiro lugar, observem o mapa ao lado, que ilustra a geografia da região da Palestina. Sendo uma área de 27.000 km2, a Palestina se localiza entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão, representando uma ponte de ligação entre o norte da África e o Oriente. Por essa razão, a região, historicamente, foi marcada por um grande fluxo de povos. Os hebreus, por exemplo, se instalaram na região da Palestina por volta de 1.200 a.C, sendo posteriormente expulsos pelos romanos em 70 d.C. No século VII, a região passou ao domínio árabe-muçulmano. Entre os séculos XIII e XX, a região ficou sob domínio do Império Turco, que teve sua desintegração no final da Primeira Guerra Mundial. Depois disso, a região passou ao domínio dos britânicos, que acabaram se retirando da região com o final da Segunda Guerra Mundial.

Feita essa rápida recapitulação, é preciso destacar a influência que o movimento sionista exerceu no processo de migração de judeus para a Palestina. Os sionistas, inicialmente liderados pelo jornalista austríaco Theodor Herzl (1860-1904), defendiam a ideia de reunir o povo judeu em um “lar judaico”. A Palestina, considerada a área de ancestralidade dos hebreus, foi o local escolhido para abrigar o Estado de Israel.
Os judeus passaram a adquirir terras na palestina e a formar colônias agrícolas desde o final do século XIX. Após a traumática perseguição dos judeus pelos nazistas, a opinião pública mundial se comoveu e passou a apoiar a criação do Estado de Israel. Em 29 de novembro de 1947, a ONU aprovou um Plano de Partilha, que previa a criação de um Estado judaico na região da Palestina. O líder judeu David Ben Gurion, em maio de 1948, proclamou – unilateralmente – a criação do Estado de Israel, tendo como base a decisão proferida pela ONU no ano interior.
Os palestinos, que ali habitavam há gerações e que também tinham a pretensão de criar um Estado independente, discordaram da decisão da ONU. Não somente pela saída forçada de suas populações, mas também pelo aumento do número de refugiados e pela perda da cidade de Jerusalém, que possui um importante significado religioso para cristãos, muçulmanos e judeus. Além disso, Israel ficaria com 56% do território. A partir de então, deu-se início a uma série de conflitos na região, situação arrastada até os dias de hoje.
Conflitos e Situação Atual
Os Estados árabes, contrariados com a criação do Estado de Israel e com o exponencial aumento da migração de judeus para a região da Palestina, organizaram-se e criaram a chamada Liga Árabe. Esses Estados, capitaneados pela Síria, Egito e Iraque, invadiram o recém-criado Estado de Israel e protagonizaram a chamada Primeira Guerra Árabe-Israelense ou Guerra de Independência. Com apoio das potências ocidentais – sobretudo dos EUA –, os israelenses surpreendentemente venceram seus vizinhos e, como consequência, sacramentaram a criação de seu Estado independente. Por outro lado, houve o abandono do Plano de Partilha, dificultando ainda mais as aspirações dos palestinos.
Um dos desdobramentos da criação do Estado de Israel foi o deslocamento de populações palestinas para os Estados árabes vizinhos, contribuindo para a desestabilização desses territórios e para a formação de enormes campos de refugiados. Esses campos, que não possuíam estrutura adequada para oferecer boas condições de vida, tornaram-se redutos de grupos contra o Estado de Israel – que, cada vez mais, se militarizava com o intuito de proteger-se contra essas ameaças. Entre esses grupos radicais, é possível citar o Hamas e o Fatah, além da Organização para Libertação da Palestina (OLP), fundada em 1964. O Hamas, Movimento de Resistência Islâmica, foi fundado no contexto da Primeira Intifada (1987). Diferentemente do Fatah, o Hamas é contrário à existência do Estado de Israel, defendendo a criação de um único Estado palestino na região.
Dito isso, vamos lembrar da Guerra dos Seis Dias, ocorrida em 1967. Esse conflito, que teve como causa o expansionismo israelense, teve como resultado a ampliação do território de Israel. Tendo como justificativa a proteção de seu Estado e a garantia de sua soberania, Israel passou a controlar territórios como a Península do Sinai (Egito), as Colinas de Golã (Síria) e porções de terra da Cisjordânia. Anos mais tarde, os Estados árabes tentaram surpreender os israelenses invadindo seu território no dia do Yom Kippur, uma das datas mais importantes do calendário judaico. Conhecida como a Guerra do Yom Kippur (1973), este conflito teve novamente a vitória israelense.
Em 1978, após negociações entre Israel e alguns governos dos Estados árabes, Israel aceitou devolver alguns territórios adquiridos no conflito de 1967, com destaque para a devolução da Península do Sinai ao Egito. Porém, os atritos entre israelenses e palestinos não cessaram, mas tomaram diferentes formatos. Um deles foi a emergência das Intifadas, que representam a ideia de resistência civil contra a dominação israelense. Simbolicamente, as Intifadas são comumente lembradas pelos palestinos jogando pedras contra guarnições e veículos militares israelenses. A realização de atentados terroristas em Israel e no exterior acabou por agravar ainda mais as tensões na região.
Por outro lado, a conjuntura do final dos anos 1980 e início da década de 1990 ofereceu maior estímulo às negociações de paz. Yasser Arafat, que, desde 1974, comandava a OLP, aumentou a busca de apoio internacional para a causa palestina e foi o líder na assinatura do Acordo de Oslo (1993), que teve a mediação de Bill Clinton. Esse acordo, que representou o início das negociações entre lideranças israelenses e palestinas, permitiria que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) governasse os territórios da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Dois anos mais tarde, porém, Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel entre os anos de 1992 e 1995, foi assassinado por um extremista judeu que era contrário às negociações de paz.
Esse evento, além de sugerir a emergência de setores mais radicais no interior do Estado de Israel, marcou um importante retrocesso na busca pela paz na Palestina. Outro sinal foi a eleição de Benjamin Netanyahu (1996-1998), sobretudo em razão do perfil conservador do atual primeiro-ministro israelense e de seu partido (Likud). A morte de Arafat, em 2004, também contribuiu para que o conflito continuasse sem resolução. Os anos 2000 presenciaram, ainda, o retorno das Intifadas.
Em agosto de 2014, após sete semanas de conflitos entre as forças israelenses e o Hamas, foi estabelecido um cessar-fogo entre as partes, tendo o Egito como principal mediador. O anúncio de cessar-fogo veio seguido de rodadas de negociação entre os israelenses e palestinos, porém, poucos avanços foram concretizados. Atualmente, o Hamas continua acusando Israel de realizar incursões militares que violariam as regras do cessar-fogo, enquanto Israel acusa o Hamas de realizar ataques contra o território israelense. Os temores de uma nova guerra voltaram à tona em 2016 e, em março de 2017, soldados israelenses mataram um jovem palestino em novos confrontos na Cisjordânia. Em resumo, o conflito árabe-israelense, apesar da convocação de reuniões dedicadas às negociações de paz, ainda se encontra distante de uma resolução, perpetrando a tensão entre os palestinos e os israelenses.