Conceição Evaristo

Todos nós falamos de um lugar. Todos nós, com nossas narrativas próprias, contamos, conscientes ou não, quem somos e quais são os fatores que nos atravessam ou quais são as dificuldades que encontramos para continuar.

Conceição Evaristo é mulher negra em um país ainda racista; nasceu em uma família de mulheres cozinheiras, faxineiras e empregadas domésticas. Ela destaca, em sua obra, a vida dessas mulheres.

Filha de uma lavadeira, Conceição conheceu desde cedo o racismo. Já foi babá e empregada doméstica, fez graduação em Letras e, hoje, é Doutora em Literatura Comparada e professora na Universidade Federal Fluminense. Ela publicou seu primeiro poema em 1990 no Cadernos Negros, editado pelo grupo Quilombhoje. É autora do romance Ponciá Vicêncio (2003) e do livro de contos Olhos d ́Água (2014).

Eu sempre tenho dito que a minha condição de mulher negra marca a minha escrita, de forma consciente inclusive. Faço opção por esses temas, por escrever dessa forma. Isso me marca como cidadã e me marca como escritora também.

CAZES, Leonardo. Conceição Evaristo: a literatura como arte da ‘escrevivência’. 2016. Disponível em: https://oparana.com.br/noticia/conceicao-evaristo-a-literatura-como-arte-da-escrevivencia/.
Data de acesso: 15/03/2019.

Daí surge o conceito de Escrevivência, criado pela própria Conceição, que significa, basicamente, trazer a vida para a escrita e escrever para viver. Escrever e viver são ações que se entrecruzam!

As histórias que Conceição ouviu durante toda a sua infância não vinham dos livros, mas da oralidade! Das histórias das culturas africanas que ela ouviu; o contato com a escrita só veio na escola.

Diz a autora em entrevista:

O que eu tenho pontuado é isso: é o direito da escrita e da leitura que o povo pede, que o povo demanda. É um direito de qualquer um, escrevendo ou não segundo as normas cultas da língua. É um direito que as pessoas também querem exercer. (…) E quando mulheres do povo como Carolina (referência à Carolina Maria de Jesus), como minha mãe, como eu, nos dispomos a escrever, eu acho que a gente está rompendo com o lugar que normalmente nos é reservado, né? A mulher negra, ela pode cantar, ela pode dançar, ela pode cozinhar, ela pode se prostituir, mas escrever, não, escrever é uma coisa… é um exercício que a elite julga que só ela tem esse direito. (…) Então eu gosto de dizer isso: escrever, o exercício da escrita, é um direito que todo mundo tem. Como o exercício da leitura, como o exercício do prazer, como ter uma casa, como ter a comida (…). A literatura feita pelas pessoas do povo, ela rompe com o lugar pré-determinado.

Para saber mais, veja também: