Carlos de Assumpção

Poeta nascido em 23 de maio de 1927 em Tietê/SP, é formado em Letras e Direito e, durante os anos 50, foi frequentador da Associação Cultural do Negro, no centro de São Paulo, onde se encontrava com ativistas da extinta Frente Negra Brasileira.

Ficou em primeiro lugar no II Concurso de Poesia Falada de Araraquara/SP em 1982, com o grandioso Poema Protesto.

Apesar do prêmio nos anos 80, o Poema Protesto é dos anos 50. Milton Santos, geógrafo brasileiro, disse que o poema, junto do discurso I Have a Dream, de Martin Luther King, foram os dois maiores clamores pela liberdade, pelos direitos igualitários, pela paz e justiça dos negros.

Poema Protesto

Senhores
Atrás do muro da noite
Sem que ninguém o perceba
Muitos dos meus ancestrais
Já mortos há muito tempo

Reúnem-se em minha casa
E nos pomos a conversar
Sobre coisas amargas
Sobre grilhões e correntes
Que no passado eram visíveis
Sobre grilhões e correntes
Que no presente são invisíveis
Invisíveis mas existentes
Nos braços no pensamento
Nos passos nos sonhos na vida
De cada um dos que vivem
Juntos comigo enjeitados da Pátria
Senhores
O sangue dos meus avós
Que corre nas minhas veias
São gritos de rebeldia

Um dia talvez alguém perguntará
Comovido ante meu sofrimento
Quem é que está gritando
Quem é que lamenta assim
Quem é?
E eu responderei
Sou eu irmão
Irmão tu me desconheces
Sou eu aquele que se tornara
Vítima dos homens
Sou eu aquele que sendo homem
Foi vendido pelos homens
Em leilões em praça pública.

ASSUMPÇÃO, Carlos de. Poema Protesto. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MTU3MDQ4NA/. Data de acesso: 15/03/2019.

Linhagem

Eu sou descendente de Zumbi
Zumbi é meu pai e meu guia
Me envia mensagens do orum
Meus dentes brilham na noite escura
Afiados como o agadá de Ogum
Eu sou descendente de Zumbi
Sou bravo valente sou nobre
Os gritos aflitos do negro
Os gritos aflitos do pobre
Os gritos aflitos de todos
Os povos sofridos do mundo
No meu peito desabrocham
Em força em revolta
Me empurram pra luta me comovem
Eu sou descendente de Zumbi
Zumbi é meu pai e meu guia
Eu trago quilombos e vozes bravias dentro de mim
Eu trago os duros punhos cerrados
Cerrados como rochas
Floridos como jardins

ASSUMPÇÃO, Carlos de. Linhagens.
Disponível em: http://literaturacpm2.blogspot.com/2011/10/cadernos-negros-linhagem-carlos.html
Data de acesso: 15/03/2019.

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