De um modo geral, quando falamos sobre Arte Contemporânea, estamos nos referindo ao período de ruptura com a Arte Moderna, que aconteceu no começo dos anos 1960. Se a Arte Moderna, desenvolvida ao longo de boa parte do século XX, desejava romper com a arte tradicional e propor novas formas de arte, por sua vez, a arte contemporânea não deseja romper com nada. Ela pode se apropriar da arte do passado, assim como realizar uma obra com tecnologia de ponta. Em resumo, a liberdade é a palavra de ordem para a arte atual.
Assim como nos outros períodos da História da Arte Brasileira, também a Arte Contemporânea Internacional foi, e continua sendo, uma grande influência para nossos artistas. O que não impede que tenhamos características particulares, conforme também ocorreu nos outros períodos. A arte brasileira contemporânea é extremamente diversificada, um verdadeiro retrato da própria diversidade cultural da qual somos constituídos. Portanto, seria impossível fazermos aqui um apanhado de tamanha riqueza cultural. Vejamos, porém, alguns exemplos significativos da nossa arte atual.

Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obras66394/parangole-p1-capa-1
Data de acesso: 20/08/2019
Provavelmente, os dois artistas brasileiros mais reconhecidos internacionalmente sejam Lygia Clark e Helio Oiticica. A produção deles está diretamente relacionada com a participação do espectador, ou, melhor dizendo, em tornar o espectador um participante. Com isso, suas obras são proposições, que foram pensadas para serem experenciadas pelo público.
Em seus parangolés (assim como em boa parte de sua produção artística), Helio Oiticica rompeu as divisões entre as linguagens artísticas. Pintura, música, dança, escultura, tudo poderia ser misturado. As pessoas eram convidadas a vestirem seus parangolés, espécies de capas coloridas feitas com tecidos de diferentes texturas e terem, assim, uma experiência com a arte através do próprio movimento dos seus corpos.
Não se trata mais de contemplar, através da visão, uma pintura pendurada na parede, mas de ter uma experiência sensorial com a arte, envolvendo vários sentidos. Tais eram as propostas da Arte Neoconcreta, um movimento artístico que se insere na Arte Contemporânea e do qual Lygia Clark também foi integrante.

Disponível em: http://www.revistacliche.com.br/2013/05/tudo-depende-do-referencial-lygia-clark/
Data de acesso: 20/08/2019
Realizados com dobraduras, os Bichos de Lygia Clark (imagem ao lado) são estruturas geométricas em metal e foram criados com o intuito de serem manipulados pelo público, que, a partir dessa manipulação, descobriria novas formas para eles.

Disponível em: http://m.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/02/1741220-autor-reaviva-forca-de-artistas-contrarios-a-ditaduras-militares.shtml
Data de acesso: 20/08/2019
O contexto da ditadura militar no Brasil foi sentido profundamente por alguns artistas. O desaparecimento de presos políticos, e a morte de tantos deles, impulsionou Arthur Barrio a criar sua série chamada Situações. A ação artística de Barrio consistia em depositar, durante a madrugada, trouxas recheadas de sangue e restos de animais mortos em locais periféricos. Pela manhã, ao serem descobertos, a impressão era de que havia, ali, mais um corpo humano morto. Dessa forma, o estranhamento ocasionado pela obra do artista fomentava que as pessoas refletissem a respeito do que estava acontecendo naquele
período.

Disponível em: http://untitledarte.blogspot.com/2014/04/diana-domingues-dianadomingues-e-uma.html
Data de acesso: 20/08/2019
Distanciados do contexto ditatorial, vale ressaltarmos mais uma ação presente na obra de muitos artistas contemporâneos a partir dos anos de 1990: a interação tecnológica. Em I ́mito: Zapping Zone (imagem ao lado), Diana Domingues cria, com o auxílio de uma equipe especializada (por isso, é um trabalho colaborativo), um ambiente repleto de objetos, sons e imagens que fazem menção a mitos da atualidade (como Madonna, Che Guevara, John Lennon e outros). Ao escolher um objeto, que contém um código de barras, o visitante pode acionar uma rede de dados que projeta imagens da personalidade selecionada. Existe, também, a possibilidade de mesclar informações de dois mitos, e criar uma terceira personalidade, mutante. Tais dispositivos são ativados a partir da interação do público, que se torna, então, um interator, e não mais um espectador, ou participante.
Obras como essas são, por vezes, de difícil descrição. Tanto pela sua complexidade, quanto pelo fato de fazerem sentido ao serem experenciadas pelos visitantes. Ainda que os bichos de Clark não possam mais ser manipulados pelo público, eles continuam sendo obras. O mesmo não acontece com a proposta interativa de Domingues. Sem o público, a obra não acontece. É possível ainda usarmos o antigo termo “obra” para nos referirmos a uma proposta como essa? Talvez esta seja uma outra história, ainda a ser escrita.
Para Saber Mais
Livro:
Arte Moderna no Brasil, Icleia Borsa Cattani, 2011.
Escrito em uma linguagem muito acessível, este livro começa com um panorama da Arte Moderna Européia (o que nos auxilia a compreendermos ainda melhor a assimilação dos valores europeus na nossa arte) e, em seguida, apresenta os momentos mais importantes da arte moderna brasileira em distintos lugares do Brasil.
Sites:
Itaú cultural – http://enciclopedia.itaucultural.org.br/
O mais interessante deste site é o seu formato. Ao acessar o link Enciclopédia de Artes Visuais, você poderá encontrar a síntese sobre os principais movimentos artísticos e artistas. Assim, é uma fonte de consulta muito ágil e confiável.
Documentário:
Quem tem medo da arte contemporânea?, direção de Isabela Cribari e Cecília Araújo, 2008.
Neste documentário, artistas e críticos de arte dão depoimentos sobre a arte contemporânea e a rejeição que ela costuma enfrentar por boa parte do público. Este documentário está disponível no YouTube.
Referências
AMARAL, Aracy A. Artes Plásticas na Semana de 22. São Paulo: Editora 34, 1998.
CHILVERS, Ian. Dicionário Oxford de Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
NAVES, Rodrigo. A forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Editora Ática, 2001.
TREVISAN, Armindo. A escultura dos sete povos. Porto Alegre: Editora Movimento, 1978.