Aristóteles

O termo metafísica, que designa toda uma área de estudos da Filosofia, tem uma etimologia curiosa. Quando foi feita a recuperação e organização da obra de Aristóteles, separou-se os escritos sobre a física dos demais, que envolviam, por exemplo, textos sobre ética e política e, na falta de um título para os textos que tratam dos assuntos que hoje chamamos de metafísicos, eles foram classificados como os textos de “depois (meta) da física”. O meta, que tinha conotação espacial de “depois” e indicava o lugar destes textos, passou a ter uma conotação transcendental, de “além” da física, e designa as obras que estudam o conhecimento daquilo que está além do mundo físico.

Resolvendo Parmênides

Você deve lembrar que Parmênides criou um problemão para a multiplicidade ao postular que só existe o que é e, portanto, o que é não muda porque não pode ser influenciado pelo que não é. Para devolver o movimento ao mundo e tornar sua concepção intelectual das coisas que existem menos conflituosa com a concepção sensível, Aristóteles deu um importante passo na história da filosofia. Sua saída para o problema de Parmênides foi fraturar o ser, quebrando-o ao meio e constituindo uma nova oposição de forças que fosse capaz de restabelecer o movimento. Aristóteles propôs que há duas maneiras de ser: ser em ato e ser em potência.

Ser em ato é aquilo que o ser é na sua atualidade, no seu instante. A semente da maçã é, em ato, uma semente de maçã.

Ser em potência é aquilo que o ser pode ser e que já está inserido em sua realidade. A semente da maçã tem, em si, a potência da macieira.

No devir (ou seja, no vir-a-ser), a atualização das potências, a realização das potencialidades, ambas inseridas dentro da unidade que Parmênides havia estabelecido para o ser, permitem a divisão de forças que devolverá ao filósofo a capacidade de pensar o mundo por seus movimentos.

Resolvendo Heráclito

Aristóteles também foi muito inventivo em identificar princípios racionais e criar conceitos que nos permitissem perceber o mesmo que Heráclito se perguntou o que era ao decompô-lo em uma multiplicidade. Os conceitos aristotélicos para resolver este problema e que são essenciais em sua metafísica são substância e acidente.

Pensem, por exemplo, que vocês podem identificar uma mesma pessoa, ainda que a tenham visto mais branca no inverno e, agora, a encontrem bronzeada do sol do verão. O que Aristóteles começa a estruturar são categorias que organizam essa identificação e, a partir delas, podemos constatar que existe uma substância que permanece quando todo o resto muda.

► Leonardo é um menino branco que voltou da praia bronzeado.

► Ser branco é uma propriedade de Leonardo, assim como ser bronzeado.

► Tornar-se bronzeado é uma potência de Leonardo, mesmo quando em ato ele é branco.

► A definição de Leonardo não depende da cor (do branco ou do bronze), as cores são propriedades acidentais da substância Leonardo.

As substâncias, portanto, são aquelas coisas que existem em si mesmas e os acidentes são aquelas coisas que só existem em outras. Cores, por exemplo, são propriedades acidentais porque não existe tal coisa como o branco em si. O branco só pode existir como propriedade de uma outra coisa: em um tecido, uma parede, uma mesa, etc… Do mesmo modo, as quantidades, ou números, também não existem em si. Você não encontra na rua um número 8 andando solitário. Os números, assim como as cores, só podem ser identificados em outras coisas que não eles próprios.

O mesmo de Heráclito passa a poder ser entendido como aquilo que permanece independente das mudanças acidentais que lhe ocorram. Pedro permanece sendo Pedro ao ficar careca, ao envelhecer ou ao renovar radicalmente o seu guarda-roupa, porque Pedro é uma substância.

Matéria e Forma

Outro par conceitual importante da metafísica aristotélica é composto pelas noções de matéria e forma. Aristóteles propôs que todo ser é constituído de matéria e forma como princípios inseparáveis.

Matéria é a própria composição física do mundo.

Forma é o que faz com que uma coisa seja aquilo que é.

A matéria contém a forma em potência. A madeira contém em si, como potência, a forma da mesa e também a forma cadeira, mas não a forma de um ser humano.

Um Filósofo Versátil e Rigoroso

Os interesses de Aristóteles foram tão variados quanto poderiam ser: dedicou-se a compreender o mundo, mas também a compreender o homem em seus aspectos culturais (estética), éticos e políticos. Também sistematizou a investigação filosófica, que, em sua época, já havia sido muito amadurecida, discutindo proposições, premissas, conclusões e argumentos a partir das regras lógicas da silogística, que se apresentava como uma ferramenta de controle para evitar argumentos inválidos. Seus textos sobre ética investigam a natureza da virtude moral e da vida plena do homem. Na estética, lançou-se a investigar a poesia grega a fim de identificar seu papel no desenvolvimento da cultura, no aprendizado e no intelecto humano. Na política, aprofundou a reflexão sobre os limites da democracia, mas rejeitou a concepção platônica da República por
considerá-la demasiado utópica.

Silogismo é um raciocínio lógico do qual, a partir de duas proposições tomadas como premissa, obtém-se uma terceira que é sua conclusão.

Premissa 1: Todo homem é mortal.
Premissa 2: Sócrates é homem.
Conclusão: Sócrates é mortal.

Veja que o que amarra este raciocínio é o próprio princípio da não contradição, uma vez que seria impossível pensar que 1 e 2 sejam verdade sem que a 3 também seja. Para um lógico, nunca interessa se, de fato, todo homem é mortal, o que interessa para o lógico é a relação entre as ideias. Então o que importa é que:

SE for verdade que todo homem é mortal (e)
SE for também verdade que Sócrates é homem

Não se pode pensar em Sócrates como não sendo mortal.

Agora veja o seguinte argumento:

Toda baleia é peixe
Jubartes são baleias
Jubartes são peixes

Existe uma premissa errada no argumento, afinal, baleias não são peixes. Mas, do ponto de vista lógico, o argumento é válido, porque, se baleias fossem peixes, seria impossível imaginar uma situação em que as duas primeiras premissas fossem verdade e a conclusão fosse falsa sem que caíssemos em contradição. Agora, veja um exemplo de quando, mesmo as premissas sendo verdadeiras, o argumento não consegue se sustentar:

Todo homem é mortal
Fifi é mortal
Fifi é homem

É verdade que todo homem morre e é verdade que Fifi, meu cachorrinho, é mortal, mas não é verdade que por Fifi ser mortal, ele é necessariamente homem, porque a primeira premissa não diz que tudo aquilo que morre é homem, mas que tudo aquilo que é homem morre, ou seja, eu posso pensar em muitas coisas que, assim como os homens, morrem, mas que não são, necessariamente, homens, como gatos, cachorros, peixes, etc…

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