Antecedentes da Era Vargas

O Começo de Uma Era

Para começar nossa conversa, vamos dividir os elementos que levaram à chegada de Getúlio Vargas ao poder em dois pontos. O primeiro ponto que quero discutir, muito brevemente, é internacional.

A partir de 1920, com o final da Grande Guerra Europeia, o mundo via o nascimento de uma nova forma de capitalismo. Esse novo capitalismo dizia que todas as pessoas poderiam ter acesso a quaisquer bens que desejassem. Isso incentivou muitas pessoas a comprarem imóveis, automóveis, gastarem muito dinheiro, inclusive o dinheiro que não tinham.

No ano de 1929, por conta de um excesso de gastos e muitos problemas nos investimentos a longo prazo, a maior bolsa de valores do mundo, fixada nos Estados Unidos da América, quebrou. Esse fato, aparentemente isolado, fez com que o mundo inteiro mergulhasse em uma depressão econômica, ou seja, o sistema capitalista mundial entrou em crise e os efeitos foram devastadores.

Sugiro começar por aí, já que o Brasil é um país inserido no sistema capitalista e dialoga com o restante do mundo. Sendo assim, não seria estranho pensarmos que essa crise teve efeitos aqui: e não foram poucos! Mas o que merece a nossa atenção agora é o efeito político. E assim, entramos no segundo ponto que quero abordar.

Até 1929, a política brasileira era caracterizada por dividir os espaços de poder entre Minas Gerais e São Paulo. Isso quer dizer que somente os dois estados mandavam no Brasil? Não. Os estados articulavam políticos do país inteiro, como se fossem elementos-chave de duas organizações políticas diferentes. Alguns estados ficavam ao lado de Minas Gerais e outros estados ficavam ao lado de São Paulo. A turma de Minas Gerais indicava um presidente a ser eleito. Havia uma votação nacional (que não abordaremos aqui, mas que era fraudada na maioria das vezes) e o presidente de Minas Gerais assumia. No pleito seguinte, era a vez de São Paulo indicar o presidente, e o mesmo acontecia. Esse acordo nacional ficou conhecido como Política do Café com Leite.

Mas a história é feita de continuidades e rupturas. Em 1929, uma dessas rupturas aconteceu. Dois candidatos à presidência se destacaram no cenário nacional, e o pacto do café com leite teve um grande impasse. O “presidente da vez” deveria ser Júlio Prestes, homem que representava o então presidente Washington Luís. Mas, do outro lado da disputa, havia Getúlio Vargas, homem vindo do seio do exército, advogado e com uma carreira política inquestionável para os moldes da época. A campanha de Vargas foi forte, assim como a de Prestes. O candidato do governo venceu a disputa eleitoral com uma margem considerável. Mas lembra que eu comentei que as eleições eram comumente fraudadas? Vargas acusou Prestes de ter fraudado as eleições e mais um fato acirrou esta disputa: o candidato a vice-presidente de Vargas, João Pessoa, foi assassinado em Pernambuco. Naquele momento, Prestes foi acusado de ter mandado matá-lo. Todo esse cenário político complexo gerou uma tensão no Catete1.

1 Palácio do Catete era a sede e a morada da Presidência da República no Rio de Janeiro.

Em 3 de outubro de 1930, Getúlio Vargas tomou o poder da República e declarou-se presidente eleito. Esse fato gerou, obviamente, revolta por parte da oposição, que acusou o feito de Golpe. Acontece que Vargas contava com o apoio de boa parte do Exército, que garantiu sua estadia na presidência. Esse movimento de 1930 iniciou uma das maiores mudanças que o Brasil sofreu nos últimos séculos.

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